quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Tragédia em Sobral: A Barbárie na Escola e o Grito por uma Alma que o Brasil Perdeu

A nação foi novamente ferida no coração de sua promessa de futuro: a escola. As notícias que emergem de Sobral, no Ceará, nesta quinta-feira, 25 de setembro de 2025, são mais do que uma simples manchete; são o sintoma agudo de uma enfermidade moral e espiritual que corrói as fundações da nossa sociedade. Um ataque a tiros na Escola Estadual Luís Felipe, que ceifou a vida de dois adolescentes e feriu outros três, não pode ser tratado como um mero caso de polícia ou uma estatística de violência. Trata-se de uma violação do sagrado, um colapso da ordem e um chamado urgente à reflexão sobre as causas primeiras que geram tais abominações. Para além do choque e da justa indignação, é imperativo buscar a luz da perene filosofia para diagnosticar a raiz desta escuridão.

A Crônica da Desordem: Fatos e Significados

Segundo os relatos, o ato de barbárie foi perpetrado por criminosos que, montados em uma motocicleta, dispararam de fora para dentro da instituição durante o intervalo. Os alvos, ao que tudo indica, estavam envolvidos em disputas de facções criminosas, o que revela uma camada ainda mais sombria do problema: a infiltração de uma guerra paralela, com seus próprios códigos de morte, dentro de um ambiente que deveria ser um santuário de paz e aprendizado.

A escola, na concepção clássica e cristã, é a extensão do lar. É o local onde a formação intelectual se une à formação moral, onde as virtudes são cultivadas e a alma é preparada não apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida, para a busca da Verdade, do Bem e do Belo. Quando seus muros são transpassados por balas, o que se fere não é apenas a carne das vítimas, mas a própria noção de civilização. O que ocorreu em Sobral é a materialização da desordem, a prova cabal de que, quando a lei de Deus é posta de lado, a lei da selva assume o seu lugar com uma ferocidade implacável.

A Causa Profunda: O Diagnóstico Tomista do Mal Moderno

Um tomista não se contenta com as causas segundas. A análise de que a violência é fruto da "desigualdade social" ou da "falta de oportunidades" é, na melhor das hipóteses, incompleta e, na pior, uma perigosa simplificação que isenta o homem de sua responsabilidade moral. Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, nos ensina que o mal não é uma substância em si, mas uma privação do bem devido (privatio boni). O ato de atirar em jovens dentro de uma escola é uma ausência aterradora: ausência de caridade, de justiça, de temperança, de fortaleza, de ordem na alma dos perpetradores.

Essa privação não surge do nada. Ela é cultivada em um ambiente cultural que abandonou a noção de um bem objetivo e de uma lei natural inscrita no coração do homem. Por décadas, nossa sociedade tem sido bombardeada por uma filosofia materialista e relativista que nega a existência de verdades eternas. Se não há um Sumo Bem, que é Deus, então todos os outros "bens" se tornam relativos. Se a vida humana não é sagrada, um dom de Deus, então seu valor se torna utilitário e, em última instância, descartável. A guerra de facções, com sua brutalidade, é apenas a conclusão lógica de um silogismo cuja premissa maior é a morte de Deus na vida pública e privada. Como bem nos recorda a sabedoria escolástica, o apetite desordenado (concupiscentia) e a ira (ira), quando não governados pela razão iluminada pela fé, conduzem o homem a atos de bestialidade. O que vemos em Sobral é a razão escravizada pelas paixões mais baixas.

A Falência da Educação e a Urgência da Formação Integral

O evento trágico expõe também a crise do nosso modelo educacional. Uma educação que se preocupa exclusivamente em preparar para exames e transmitir competências técnicas, mas que se omite na formação do caráter, está fadada ao fracasso. Ela pode formar profissionais competentes, mas também pode gerar monstros habilidosos. A verdadeira educação, como defendida em nosso artigo sobre "O que é a verdadeira educação segundo a Igreja", visa a pessoa inteira: seu intelecto, sua vontade e seu coração.

É preciso que a escola, em parceria com a família, volte a ser um lugar de cultivo das virtudes. A justiça, para dar a cada um o que é seu; a prudência, para discernir o bem e os meios de alcançá-lo; a fortaleza, para resistir ao mal e perseverar no bem; e a temperança, para moderar as paixões. Sem essa base, o conhecimento técnico se torna uma arma nas mãos de almas desordenadas. A tragédia de Sobral é um espelho do que acontece quando abandonamos a busca pela Sabedoria em troca da mera informação.

A Resposta Cristã: Justiça, Ordem e o Bem Comum

Diante do horror, a primeira resposta deve ser um clamor por justiça. A justiça, ensina Santo Tomás, é uma virtude cardeal. Os responsáveis por este crime devem ser encontrados e punidos com o rigor da lei, não por vingança, mas para a restauração da ordem violada e para a proteção do Bem Comum. A impunidade é um veneno que destrói o tecido social, pois sinaliza que o mal compensa. O Estado tem o dever primordial de garantir a segurança dos seus cidadãos, e a falha em fazê-lo é uma grave negligência.

Contudo, a justiça humana, por si só, é insuficiente. A solução a longo prazo não virá apenas de mais policiamento ou de leis mais duras, embora estas sejam medidas necessárias e urgentes. A verdadeira reconstrução deve começar na única instituição capaz de gerar homens virtuosos: a família. Uma família cristã bem estruturada é a primeira escola, a primeira igreja e o primeiro governo na vida de uma criança. É no seio familiar que se aprende o amor, o respeito, o sacrifício e, acima de tudo, o temor a Deus. A desintegração da família é a causa primária da desintegração social que vemos hoje.

Conclusão: Entre a Dor e a Esperança

A dor que Sobral e todo o Brasil sentem hoje é profunda. É a dor de ver a inocência assassinada e a esperança profanada. As lágrimas das mães cearenses são as lágrimas de toda uma nação que se vê no espelho e não gosta da imagem refletida. Este não é um problema do Ceará; é um problema do Brasil. É o resultado de um projeto de nação que deliberadamente deu as costas para Deus, para a moral objetiva e para as virtudes que forjaram a civilização ocidental.

Que esta tragédia não seja em vão. Que ela nos desperte da letargia espiritual. Que nos faça clamar por justiça, mas também por conversão. Que nos leve a rezar pelas almas dos jovens que partiram, pelo consolo de suas famílias e pela conversão dos assassinos. E, acima de tudo, que nos inspire a arregaçar as mangas para reconstruir, a partir de nossas próprias casas e comunidades, uma ordem social onde a vida seja sagrada, a virtude seja honrada e a escola volte a ser um santuário seguro para a busca do conhecimento e da santidade. A barbárie bateu à porta da escola. A única resposta à altura é um retorno decidido e corajoso à Civilização Cristã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Minha foto
Tomista, dedico-me ao estudo da Filosofia, que pela luz natural da razão nos eleva ao conhecimento das primeiras causas, e da Teologia, a ciência sagrada que, iluminada pela Revelação, a aperfeiçoa e a ordena ao seu verdadeiro fim. Ambas as ciências são para mim os instrumentos para buscar a Verdade subsistente, que é Deus, o fim último para o qual o homem foi criado.

Contato

Nome

E-mail *

Mensagem *