A expressão "complexo de vira-lata", cunhada pelo dramaturgo e jornalista brasileiro Nelson Rodrigues na década de 1950, descreve com precisão cirúrgica um mal-estar psíquico e social profundo: a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. É o ato de cuspir na própria imagem, um narcisismo às avessas que desvaloriza o que é próprio em detrimento do que é alheio. O que Nelson Rodrigues identificou no campo do futebol e da cultura, a Filosofia Tomista nos permite analisar na dimensão mais radical da antropologia e da moral: o desvio da reta razão na percepção do próprio ser e do valor.
Este artigo se propõe a desvelar o complexo de vira-lata não apenas como um fenômeno sociológico ou psicológico, mas como um sintoma da desordem interior, uma falha na virtude da magnanimidade e no autoconhecimento da alma, tal como ensinados por Santo Tomás de Aquino. Para o Aquinate, todo ser humano é dotado de uma dignidade intrínseca e inalienável, que é o ponto de partida para a superação de qualquer sentimento de inferioridade autoimposta.