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sábado, 21 de março de 2020

Sobre fazer o bem

Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos (Gl 6, 9).

Com estas palavras, São Paulo faz três coisas:

   1. Avisa-nos de que devemos fazer o bem. Pois fazer o bem é um dever, visto que todas as coisas, por natureza, ensinam-nos a fazer o bem.
   (i) Elas assim nos ensinam porque são elas mesmas boas. Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom (Gn 1, 31). Os pecadores têm inúmeros motivos para envergonharem-se entre a multidão das coisas criadas, todas elas boas, ao passo que eles, por si próprios, são maus.
   (ii) Porque todas as coisas, por sua natureza, fazem o bem. Pois toda criatura dá-se a si mesma,¹ e isto é um sinal de sua própria bondade e da bondade de seu Criador. Diz Dionísio: "Deus é o bem que difunde-se a si mesmo". Santo Agostinho diz: "É um grande sinal da bondade divina que toda criatura seja compelida a dar-se a si mesma".
   (iii) Porque todas as coisas, por sua natureza, desejam o que é bom e tendem ao bem. O bem é, na verdade, aquilo por que todas as coisas anseiam.

   2. São Paulo nos avisa que, para fazer o bem, não devemos relaxar. Três são as coisas que mais fazem o homem perseverar no bem agir:
   (i) Oração assídua e de todo coração, para que Deus nos ajude a não cair quando tentados — Vigiai e orai para que não entreis em tentação (Mt 26, 41).
   (ii) Temor incessante. Tão logo um homem sente a confiança de estar salvo, começa a falhar no bem agir — Se não te aferrares firmemente no temor do Senhor, tua casa em breve será destruída (Eclo 27, 4). O temor de Deus é o guardião da Vida; sem ele, de fato é rápida e repentina a destruição da casa, isto é, da morada que é deste mundo.
   (iii) A esquiva dos pecados veniais; pois os pecados veniais são ocasiões dos pecados mortais e frequentemente sabotam a realização de boas obras. Diz Santo Agostinho: "Evitastes perigos grandiosos; cuidai para que os grãos de areia não vos derrubem". E o Eclesiástico (19, 1): Aquele que se descuida das pequenas coisas, cairá pouco a pouco.

   3. São Paulo oferece uma recompensa justa, generosa e eterna: porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos.

   Justa: a seu tempo, isto é, no tempo justo, no dia do juízo, quando cada um deve receber aquilo que conquistou. Assim o lavrador recebe o fruto de seu plantio, não imediatamente, mas no tempo devido — Vede o lavrador: ele aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até receber a chuva do outono e a da primavera (Tg 5 7).
   Generosa: colheremos; aqui está indicada a copiosidade da recompensa. À colheita associamos a abundância — Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará (2Cor 9, 6); será grande a vossa recompensa nos céus (Mt 5, 12).
   Eterna: colheremos, se não relaxarmos. Devemos então fazer o bem não por uma hora somente, mas sempre e continuamente. Não nos cansemos de fazer o bem, isto é, não nos cansemos de semear, para que não nos cansemos de colher — Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades (Ec 9, 10). E o certo é que não nos cansemos de trabalhar, porque a recompensa que estamos buscando é eterna e infalível. Daí Santo Agostinho dizer: "Se o homem não limitar seu trabalho, Deus não limitará a recompensa".

Sermones, Pars 1, n. 119²

¹ No latim: quaelibet enim creatura dat seipsam.
² Este texto foi erroneamente atribuído a Santo Tomás de Aquino; pertence a Aldobrandino.

O trabalho da vinha

Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. Disse-lhes Ele: Ide também vós para vinha e vos darei o justo salário (Mt 20, 3).

Nestas palavras, podemos notar quatro coisas:

1. A bondade do Senhor, que saiu, isto é, a fim de salvar seu povo. Pois que Cristo tenha saído para conduzir os homens para a vinha da justiça foi deveras um ato de infinita bondade.

De Nosso Senhor é dito que saíra cinco vezes. Ele saiu no princípio do mundo, como semeador, a semear suas criaturas — Saiu o semeador a semear a sua semente (Lc 8, 5). Depois, em sua atividade, para iluminar o mundo — até que sua justiça brilhe como a aurora (Is 62, 1). Em sua Paixão, para salvar os seus do poder do demônio e de todos os males — De repente minha justiça chegará, minha salvação vai aparecer (Is 51, 5).

Ele sai como o pai de família, cuidando de seus filhos e de seus bens — O Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha (Mt 20,1). Por fim, ele saiu para o julgamento, e de três formas: para fazer rigoroso inquérito contra os perversos, como um supervisor; para abater os rebeldes, como um poderoso lutador; e, como um juiz, para punir, conforme seus merecimentos, os criminosos e malfeitores.

2. A estultice dos homens.

Pois nada é mais tolo do que, nesta vida presente, na qual os homens devem trabalhar para que possam viver eternamente, viver na ociosidade — viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. Tal praça é esta nossa vida presente. Pois é na praça que os homens discutem e compram e vendem; e, portanto, a praça significa a nossa vida cotidiana, cheia de afazeres, de compras e vendas, e na qual também as perspectivas da graça e da glória celeste são vendidas em troca de boas obras.

Esses trabalhadores são chamados de ociosos porque já deixaram passar uma parte de suas vidas. E não só os malfeitores são chamados de ociosos, mas também aqueles que não fazem o bem. E assim como os ociosos nunca alcançam os seus fins, assim também será com esses. O fim do homem é a vida eterna. Aquele, portanto, que trabalha apropriadamente possuirá aquela vida, se não for um ocioso.

É grande tolice viver sem fazer nada nesta vida; pois da ociosidade, assim como de um mau professor, nós tiramos maus ensinamentos; por ela chegamos a perder o bem que dura para sempre; e pela curta ociosidade desta vida, sujeitamo-nos a uma labuta que é eterna.

3. A necessidade de trabalhar na vinha do Senhor — Ide também vós para vinha.

A vinha à qual os homens são enviados para trabalhar é a vida da bem-aventurança, na qual há tantas árvores quanto há virtudes. Devemos trabalhar nesta vinha de cinco maneiras: plantando nela boas obras e virtudes; arrancando-lhe pela raiz e extirpando-lhe os espinhos, isto é, nossos vícios; podando-lhe os ramos supérfluos — podará todo [ramo] que der fruto, para que produza mais fruto (Jo 15, 2); mantendo distantes dela as raposas, isto é, os demônios; e guardando-a dos ladrões, isto é, mantendo-nos indiferentes ao louvor e à reprovação da humanidade.

4. A utilidade do trabalho.

O salário daqueles que trabalham na vinha é um denário, que vale mais do que mil ciclos de prata. Isto é o que nos ensina a Escritura: Salomão tinha uma videira; [...] cada um devia dar mil siclos de prata pelos frutos colhidos (Ct 8, 11). Os mil siclos de prata são as mil alegrias da eternidade, que são significadas pelo denário.

Sermones, Pars 1, n. 31

A oração de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras

1. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: 'Meu Pai' (Mt 26, 39).

Aqui, Nosso Senhor nos recomenda três condições a serem observadas quando rezarmos:

(i) Solicitude: pois adiantou-se um pouco, separando-se até daqueles que havia escolhido - Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo (Mt 6, 6). Mas note-se que ele não foi muito longe, mas um pouco, para que pudesse mostrar que não estava longe daqueles que o invocam, e também para que o vissem rezando e aprendessem a rezar do mesmo modo.

ii) Humildade: prostrando-se com a face por terra, deu assim um exemplo de humildade. Isto porque a humildade é necessária à oração e porque Pedro tinha dito: Mesmo que seja necessário morrer contigo, ja mais te negarei! (Mt 26, 35). Portanto Nosso Senhor prostrou-se, para mostrar que não se deve confiar nas próprias forças.

(iii) Devoção: ao dizer 'Meu Pai'. É essencial que ao rezar, rezemos com devoção. Ele diz Meu Pai porque ele é singularmente o Filho de Deus; nós som filhos de Deus por adoção somente.

2. 'Se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que Tu queres' (Mt 26, 39)

   Aqui consideramos o teor da oração. Cristo estava rezando de acordo com as sugestões de seus sentidos naturais, isto é, na medida em que sua oração, advogando em favor de seus sentidos, expressava as inclinações de seus sentidos, propondo para Deus, pela oração, que o desejo de seus sentidos sugeria. Ele assim o fez para nos ensinar três coisas:

(i) Que ele tinha assumido uma natureza verdadeiramente humana com todas as suas inclinações naturais.;

(ii) Que é lícito ao homem querer, de acordo com suas inclinações naturais, algo que Deus não quer;

(iii) Que o homem deve submeter suas próprias inclinações à vontade divina. Daí Santo Agostinho dizer: "Cristo, enquanto homem, demonstrou certa propensão pessoal humana quando disse: Afasta de mim este cálice. Isto era inclinação humana, a vontade de um homem e, por assim dizer, seu desejo íntimo. Mas Cristo, por querer ser um homem de coração reto, um homem ordenado a Deus, acrescenta: "Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que Tu queres".

S. Th. Ma, q. 21,a2

   E com isso ele ensina, dando exemplo, como devemos ordenar nossas inclinações para que elas não entrem em conflito com a lei divina. Disso aprendemos que não há nada de errado em nossa repulsa ao que naturalmente repugnante, contanto que alinhemos nossas emoções com a vontade divina.

   Cristo tinha duas vontades: a de seu Pai, porquanto Ele era Deus, e outra, na medida em que Ele era homem. Esta vontade humana Ele submeteu em todas as coisas a seu Pai, dando-nos com isso um exemplo para que façamos o mesmo - Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6, 38).

Super Matth, c. 26, lect. 5

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Santo Tomás de Aquino - Oração para os estudos

Infalível Criador, que dos tesouros da Vossa sabedoria, tiraste as hierarquias dos Anjos colocando-as com ordem admirável no céu; distribuístes o universo com encantável harmonia, Vós que sois a verdadeira fonte da luz e o princípio supremo da sabedoria, difundi sobre as trevas da minha mente  o raio do esplendor, removendo as duplas trevas nas quais nasci: o pecado e a ignorância.

Vós que tornaste fecunda a língua das crianças, tornai erudita a minha língua e espalhai sobre os meus lábios a vossa bênção. Concede-me a acuracidade para entender, a capacidade de reter, a sutileza de relevar, a facilidade de aprender, a graça abundante de falar e de escrever. Ensina-me a começar, rege-me a continuar e perseverar até o término. Vós que sois verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.

sábado, 22 de abril de 2017

Idem velle, et idem nolle

“São Tomás de Aquino definia a amizade como querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas. Você só é amigo das pessoas que estão indo para o mesmo lugar, que têm os mesmos valores que você; os outros, ainda que sejam seus parentes, ainda que seja a sua mulher, seu pai, sua mãe ou seu filho, não são seus amigos, mas apenas pessoas conhecidas. Com essas pessoas, a atitude que você tem de ter é de caridade. Qual é a caridade que você pode ter com elas? Ensiná-las.

Se você ainda tem medo delas, e não está preparado para ensiná-las, fuja. Fique na solidão, se prepare, e quando você estiver fortinho volta lá, ativamente, com paciência, mas com firmeza. Nunca aceite a convivência nesses termos; nunca aceite a convivência mediocrizante, que vai te rebaixar, porque isso é o que a Bíblia chama de ‘roda dos escarnecedores’, e você não pode ter nada que ver com essa gente. Veja que se afastar das pessoas não quer dizer que você as odeie e não tenha amor por elas."

– Olavo de Carvalho, trecho do Curso Online de Filosofia. Uma dica básica preciosa para os que querem enveredar pela busca de verdade.

“Idem velle, idem nolle”: amigo é o sujeito que quer a mesma coisa que você e rejeita a mesma coisa que você.

Ora, já dizia Santo Tomás de Aquino: “Ubi vera amicitia est, ibi idem velle, et idem nolle, tanto dulcius, quanto sincerius. (Onde está a verdadeira amizade, aí está o mesmo querer e o mesmo não querer, tanto mais agradável, quanto mais sincero), em Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiae I.42.3.

Paz de Cristo,

sábado, 1 de abril de 2017

Filosofia oculta de Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino é indubitavelmente o maior teólogo da Igreja, e por isso mesmo, recebeu os títulos de Doutor Angélico, Doutor Comum, Doutor Universal. Embora sendo uma eminência teológica, esta não ofuscou a sua excelência filosófica. Muitas vezes a sua sabedoria filosófica é esquecida, pois é citado quase sempre, como emérito e incomparável teólogo, ficando oculta, a sua grandeza filosófica. Entretanto, as XXIV Teses escritas por ele, e denominadas de “Teses Tomistas” , são lembradas justamente para revelar a autêntica filosofia de Santo Tomás. E tanto é assim, que a filosofia do grande mestre e teólogo marcou um espaço definido, sendo considerada como uma legítima filosofia, denominada de “filosofia aristotélico-tomista”. Como afirmam os grandes Mestres, não se pode deixar de reconhecer que Tomás de Aquino seguiu as trilhas de Aristóteles, mas ele reformulou de tal modo e com tal sabedoria os ensinamentos do sábio grego, que arquitetou outra filosofia, a sua própria filosofia.

Basta considerar como ele com discernimento, soube introduzir naquela filosofia, os conceitos da criação das coisas por Deus, da temporalidade da matéria-prima, e também do próprio ser, conduzindo as idéias até as últimas consequências, bem mais distante do que aquilo que o Filósofo Grego apenas esboçara. É uma filosofia realista.

O Tomismo parte da realidade das coisas, não de idéias imaginadas, e delas, conclui todo um sistema coordenado por teses. Em outras palavras: o Tomismo se originou da percepção sensível do mundo, e depois tirou dela, no plano abstrativo da inteligência, um conjunto harmonioso de teses. O Papa Leão XIII, na Encíclica "Aeterni Patris”, descreve a filosofia de Santo Tomás de Aquino:

“O Doutor Angélico buscou as conclusões filosóficas nas razões principais das coisas, que têm grandíssima extensão e conserva em seu seio o germe de quase infinitas verdades, para serem desenvolvidas em tempo oportuno e com imensa quantidade de frutos pelos mestres dos tempos posteriores”.

As razões principais das coisas”, é o ponto de partida da Filosofia Tomista. Das coisas que existem, percebidas pelos sentidos humanos, depois de conceituadas e analisadas pela inteligência, Tomás de Aquino eleva as considerações até as explicações últimas das mesmas. E é subindo das percepções mais primitivas das coisas, que Santo Tomás de Aquino chega à certeza do Supremo Criador de todas as coisas. Caminhando pelas mudanças das coisas, da causalidade existente entre elas, da contingência, das perfeições, e da ordem harmoniosa das mesmas, ele caminhando por cinco vias, atinge a sublimidade, a suma perfeição, a existência de DEUS.

Santo Tomás de Aquino afirmava, que a verdade não tem dono, pertence a todos, é de todos, e acrescentava que: “toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do ESPÍRITO SANTO”, e diante das diversas opiniões dos filósofos, ele dizia: “não olhes por quem são ditas, mas o que dizem”.

O Papa Paulo VI com felicidade descreveu a filosofia Tomista como aquela que abrange o Ser “Tanto no seu valor universal, como nas suas condições essenciais”. Ao que o Papa João Paulo II acrescentou dizendo em belos termos que: “esta filosofia poderia ser chamada filosofia da proclamação do Ser, um autêntico canto em honra daquilo que existe”.

Três Papas declararam que “A Igreja fez sua, a doutrina de Santo Tomás de Aquino”.

Por outro lado, como é compreensível, Tomás de Aquino não elaborou sozinho a sua filosofia, não a construiu extraída da sua genial inteligência, mas recebeu contribuição dos helênicos Platão e Aristóteles, dos israelitas Avicebron e Maimônides, dos árabes Avicena e Averróis, dos Padres da Igreja, sobretudo de Santo Agostinho, da metafísica implícita na Revelação, as quais estudou profundamente, e com o seu agudíssimo espírito iluminado pela Luz de DEUS, uniu a herança recebida de seus predecessores às suas contribuições pessoais, formulando a sua admirável Filosofia Tomista. A essência deste Realismo está condensada nas XXIV Teses Tomistas.

   Pode ainda surgir à pergunta, por terem sido As XXIV Teses formuladas pela Igreja e por ela propostas, se a uma pessoa que confesse outro credo religioso diferente do católico, lhe serão aceitáveis as XXIV Teses de Santo Tomás de Aquino? Evidentemente teremos uma resposta positiva, porque essas teses limitam-se ao campo da filosofia formulada pela razão natural. Ademais, as que se referem à temporalidade do mundo, à imortalidade da alma, á dualidade corpo e alma, à doutrina da criação, embora sejam afirmadas na Revelação, poderão ser descobertas pela própria razão natural. As Teses se limitam, às filosofias que prescindem da teologia e das verdades religiosas, dos mistérios e dogmas da fé.

O Primeiro escrito

Santo Tomás de Aquino escreveu entre os anos de 1252 a 1253, quando ainda era jovem, um opúsculo: "O Ente e a Essência”. Nele, aborda questões metafísicas, explicando o percurso da consciência humana entre a sensação e a concepção. Ele afirmava: aquilo que cai imediatamente no alcance do saber humano é composto. O homem se eleva do composto ao simples, do posterior ao anterior. A essência existe no intelecto. A substância composta é matéria e forma. A forma e a matéria, quando tomadas em si, isoladamente, sem a preocupação do entendimento racional, são incognoscíveis, ou seja, não podem ser conhecidas, mas existem caminhos para a investigação das possibilidades. O intelecto quando está isento de pensamentos materiais, revela que nada pode ser mais perfeito do que aquilo que confere o ser humano. Tomás de Aquino é famoso por ter cristianizado Aristóteles, à semelhança do que fez Agostinho com Platão, ele transformou o pensamento daquele sábio num padrão aceitável pela Igreja Católica. Isto, apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, e de ser a sua obra original, autônoma e independente de dogmas, ela está em harmonia com o saber contido na Sagrada Escritura.

Tomás de Aquino afirmava que podemos conhecer DEUS pelos seus efeitos, porque ELE , o SENHOR, é o último numa escala evolutiva, e a causa de todas as coisas. Antes de DEUS vêm os Anjos, e antes desses, os homens. Ele comenta o gênero e a espécie, que pertencem à essência, pois “o todo” está no indivíduo. A essência tem dois modos, um modo dela própria, e o outro, nada é verdadeiramente dela, senão o que lhe cabe como ela própria. Por exemplo o homem, por ser homem, será sempre racional (isto é próprio do homem e de todos os seres humanos). Mas o branco e o preto não são noções exclusivas da humanidade, não são verdadeiramente dos humanos. (Isto porque, existem muitas raças e não somente homens brancos e pretos). A diferença da essência da substância compostas e simples é que a composta tem forma e matéria, e a simples é apenas forma. A inteligência possui potência e ato. Santo Tomás de Aquino afirma que a essência de DEUS é o seu próprio Ser.

Suas obras teológicas têm muitos aspectos filosóficos. Por exemplo, recordemos a sua clássica afirmação, de que o homem possui uma capacidade, concedida por DEUS, de distinguir naturalmente o certo e o errado. Ele não tinha uma visão muito positiva da mulher, como Aristóteles, que dizia ser o homem mais ativo, criativo e doador de energia vital na concepção, enquanto a mulher é receptora e passiva. Mas aceitava a idéia do filósofo grego, acreditando que aqueles dizeres estavam de acordo com o que estava na Bíblia, no versículo do Gênesis, o qual afirma que a mulher derivou de uma costela do homem. Por outro lado, as Sagradas Escrituras ensinam como viver segundo a vontade de DEUS, e dela, Tomás de Aquino exauriu os seus argumentos sobre a vida moral. Ele com inteligência e discernimento demonstra que não há conflito entre a fé e a razão. O conhecimento verdadeiro é uma adição que se acresce a inteligência para o objeto (que se estuda) ser bem compreendido. Apesar de DEUS ser a causa de tudo, ELE não age diretamente nos fatos (nos acontecimentos) de sua criação. Mas a Providência Divina existe e governa o mundo, pois ELE, o SENHOR, é absoluto e necessário a vida. Sem ELE, o mundo é vazio e a existência é efêmera. A felicidade do homem só pode ser encontrada NELE, na contemplação da Verdade e seguindo o Divino caminho.

A memória nasce pelo acúmulo de lembranças, e a lembrança nasce da experiência. Mas o homem se eleva ao raciocínio e produz a arte. A filosofia é um conhecimento das causas dos fenômenos. Assim a filosofia deve considerar o senso comum e tem um aspecto coincidente com a teologia: seu saber provém da Sabedoria Divina. A Sabedoria Divina deve ser cultivada através da fé, dizia Tomás de Aquino, e isso é comum entre os teólogos. Ele distingue na natureza o ser real e o ser da razão. O ser real existe independente de qualquer consideração da razão. O ser da razão é aquele que apesar de existir em representação, não pode ser independente do pensamento de quem o concebe. Assim a lógica humana só existe no conceito, e não na realidade. Por outro lado, a alma é imortal, pois é imaterial, e tudo que é imaterial é imortal.

Na "Suma contra os Gentios” (os Gentios eram os pagãos e os maometanos), ele faz uma exposição completa da religião católica, identificando a verdade que existe nela. Essa Suma trata de DEUS e de Suas Obras, da fé no Mistério da Santíssima Trindade, da Encarnação, dos Sacramentos e da Vida Eterna. DEUS é a verdade pura, sem falsidade, Vontade que existe em SI e para SI, e neste processo estende a Sua Divina Vontade para o que não é a Sua Essência. O que não é a Essência Divina, são as coisas criadas por DEUS, pois DEUS é tudo. Não tem ódio, não quer o mal, e suas entranhas dão Vida a um Amor Absoluto e Eterno, vibrante, caloroso e indestrutível.

Provas da existência de Deus



Na "Suma Teológica”, que é a sua obra mais importante, ele estabelece as relações entre a ciência e a fé, e entre a filosofia e a teologia. Originando da revelação, a teologia é a ciência suprema, da qual a filosofia é serva ou auxiliar. À filosofia se desenvolve de conformidade com a razão, e por isso mesmo, lhe cabe demonstrar a existência e a natureza de DEUS.

Ele afirma que não podemos ter de DEUS, uma idéia clara e absolutamente distinta, porque nada existe na inteligência, que antes tenha estado nos sentidos humanos. Por exemplo, se sentimos a presença de uma pequena pomba, que nossos olhos vêem, nosso raciocínio recebe aquela informação dos sentidos e compreende que estamos vendo uma pequena pomba.

Assim, para provar a existência de DEUS, ele procede a “posteriori”, partindo não da idéia de DEUS, mas dos efeitos por ele produzidos, formulando cinco argumentos, ou seja, propondo cinco vias:

1) O movimento existe e é uma evidência para os nossos sentidos; ora, tudo o que se move é acionado por um motor; se esse motor, por sua vez, é movido, precisará de uma força para impulsioná-lo, e, assim, indefinidamente, o que é impossível concebermos, se não houver um primeiro motor ou uma força geradora, que movimente aquele primeiro motor. E esta “força” existe, é a Vontade de DEUS.

2) Há uma série de diferentes causas que produzem variados efeitos, ao mesmo tempo; ora, não é possível produzir indefinidamente uma série de causas; logo, terá que haver uma causa primeira, não causada pelo homem, e que portanto,  provêm da força de DEUS.

3) Todos os seres são finitos e contingentes, pois não têm em si próprios a razão de sua existência - são e deixam de ser; ora, se são todos contingentes, em determinado tempo deixariam todos de ser e assim, nada existiria, o mundo ficaria vazio, o que é um absurdo; logo, os seres contingentes implicam na existência do ser necessário, que é DEUS, que tudo providencia.

4) Os seres finitos alcançam todos os determinados graus de perfeição, mas nenhum é a perfeição absoluta; logo, há um ser sumamente perfeito, causa de todas as perfeições, que é DEUS.

5) A ordem do mundo implica em que os seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas da inteligência que os dirige; logo, há um ser inteligente que os dirige; logo, há um ser inteligente que ordena a natureza e a encaminha para seu fim; esse ser inteligente é DEUS.

Complemento Racional: No mar e nos rios, existe uma quantidade notável de diferentes espécies de peixes, que se reproduzem por sua própria natureza. Como surgiram os primeiros peixes, aqueles que colocaram os primeiros ovos para que nascessem todos os outros na sequência da vida? Foi a Vontade Magnânima e Amorosa de Um DEUS Poderoso e Eterno quem colocou os primeiros peixes no rio e no mar.

Homem, alma e conhecimento

Para Tomás de Aquino, o homem é corpo e alma inteligente, incorpórea (ou imaterial), e se encontra, no universo, entre os Anjos e os animais. Princípio vital, a alma é a parte do corpo organizado que tem a vida em plenitude.

Contestando o platonismo e a tese das idéias inatas, Tomás de Aquino observa que se a alma tivesse de todas as coisas um conhecimento inato, não poderia esquecê-lo, e, sendo natural que esteja unida a um corpo, não se explica porque seja o corpo a causa desse esquecimento.

Para Tomás de Aquino, conhecer não é se lembrar, como pretendia Platão, mas extrair, por meio do intelecto, a forma e o conhecimento que se acha contida nos objetos sensíveis e particulares. Do conhecimento depende o apetite, ou o estimulo e desejo, a natural inclinação da alma pelo bem.

O homem, só pode desejar o que conhece, razão pela qual há duas espécies de apetites ou desejos: os sensíveis e os intelectuais. Os primeiros, são relativos aos objetos sensíveis, e produz as paixões, cuja raiz é o amor. Os segundos ou intelectuais, produzem a vontade, apetite da alma em relação a um bem que lhe é apresentado pela inteligência como tal.

Seguindo Aristóteles, Santo Tomás de Aquino diz que: "para o homem, o bem supremo é a felicidade, que não consiste na riqueza, nem nas honrarias, nem no poder, e nem em nenhum bem criado, mas na contemplação do absoluto, ou na visão da essência Divina, realizável somente na outra vida, e com a graça de DEUS, pois excede as forças humanas".

Dom Odilão Moura O.S.B

sábado, 28 de janeiro de 2017

28 de janeiro, dia de Santo Tomás de Aquino

Embora o Magistério lhe atribua, por sua inigualável contribuição à teologia, o título de "Doutor Angélico", Santo Tomás de Aquino vem caindo no esquecimento ano após ano.

Mas qual é a verdadeira posição da Igreja em relação à teologia tomista? A doutrina do Aquinate estaria porventura ultrapassada?

Embora o Magistério lhe atribua o título de Doctor Angelicus, por sua inigualável contribuição à teologia, Santo Tomás de Aquino vem caindo no esquecimento ano após ano. Em alguns casos, chega-se a considerá-lo matéria ultrapassada, sobre a qual não valeria mais a pena discutir. Os estudos teológicos, com efeito, deveriam ser pautados apenas pelos conceitos modernos de investigação, não por teses medievais.

Mas essa, sem sombra de dúvida, não é a posição da Igreja Católica. O Concílio Vaticano II, superando qualquer outra afirmação conciliar já feita - mesmo as de Trento -, deu a Santo Tomás de Aquino o posto de “o guia" da teologia e da filosofia. Por duas vezes, os padres conciliares se referem a ele nesses termos. A Declaração Gravissimum Educationis, que versa sobre a educação cristã, por exemplo, diz o seguinte: “se veja mais profundamente como a fé e a razão conspiram para a verdade única, segundo as pisadas dos doutores da Igreja, mormente de S. Tomás de Aquino". E assim também a Optatam totius, sobre a formação dos sacerdotes: “Depois, para aclarar, quanto for possível, os mistérios da salvação de forma perfeita, aprendam a penetrá-los mais profundamente pela especulação, tendo por guia Santo Tomás, e a ver o nexo existente entre eles".

Contudo, apesar das claras admoestações do Concílio, bastou que Paulo VI dissesse “Ite, missa est", para que Santo Tomás de Aquino fosse varrido do mapa. A impressão que se tinha era que o Vaticano II havia relativizado a importância do Doctor Angelicus, como se já não importasse mais a sua contribuição. Nada mais fantasioso.

O Magistério posterior ao Concílio continuou a insistir na teologia de Santo Tomás. Paulo VI, na Carta Apostólica Lumen Ecclesiae. João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio. O Código do Direito Canônico, no cânon 252, dizendo, novamente sobre a formação dos sacerdotes, que “haja lições de teologia dogmática, baseadas sempre na palavra de Deus escrita, juntamente com a sagrada Tradição, com cujo auxílio os alunos aprendam a penetrar mais intimamente o mistério da salvação, tendo por mestre principalmente a S. Tomás". E, finalmente, Bento XVI: “A profundidade do pensamento de São Tomás de Aquino brota – nunca o esqueçamos – da sua fé viva e da sua piedade fervorosa".

Ora, está mais do que óbvio que nem o Concílio nem o Magistério posterior a ele descartaram a teologia de Santo Tomás. A Igreja, muito pelo contrário, fez um esforço imenso para que o seu modelo fosse adotado em todos os âmbitos da formação cristã. Se, no entanto, surgiu a impressão de que o Doctor Angelicus estava obsoleto, tratou-se de uma mentira, de uma falsidade ideológica que, infelizmente, ainda hoje, faz muitas vítimas e que se pauta numa visão totalmente alheia ao Vaticano II, muitas vezes lhe subtraindo o sentido, dividindo a Igreja de Cristo em pré e pós Conciliar. Foi exatamente essa visão que Bento XVI tanto combateu durante os seus oito anos de pontificado, ensinando que “a alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do Concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao Concílio, deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes de que vive a árvore".

Muitas das declarações equivocadas que circulam nos corredores de seminários, paróquias e, até mesmo, jornais devem-se à falta de conhecimento de Santo Tomás. Falta-lhes a capacidade de ordenar as coisas, tal qual pedia o Doutor da Igreja. Sem a ordem, é impossível um diálogo sincero, uma vida limpa e, sobretudo, o encontro com a Verdade. É exatamente assim que surge sobre o sentido da fé cristã aquela “névoa de incerteza" - da qual falava o então Padre Joseph Ratzinger - “mais pesada do que em qualquer outro momento da história".

É preciso voltar a Santo Tomás de Aquino. Nele, não somente se encontram ensinamentos seguros, como também a piedade cristã que leva para Deus. Com o Doctor Angelicus, todos são instados a orar, suplicando ao Senhor: "Concedei-me, suplico-vos, uma vontade que vos procure, uma sabedoria que vos encontre, uma vida que vos agrade, uma perseverança que vos espere confiadamente e uma confiança que no final chegue a possuir-vos".

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O voto de pobreza

Fazer voto de pobreza no mundo em que vivemos, é uma decisão muito radical. É para poucos. Principalmente quando a pessoa tem uma grande chance de se tornar um milionário. Porém, tudo neste mundo é transitório, tudo nele passará um dia. Não vale a pena buscar prosperidade financeira.

Por isso, penso que essa foi a decisão de Santo Tomás de Aquino, quando renunciou os bens materiais de seus pais e entrou na Ordem dos Pregadores. Creio que ele quis ser como Jesus, que neste mundo nada teve; a não ser seus pais, que eram pobres financeiramente falando.

Ora, Jesus foi um carpinteiro, profissão esta que hoje no Brasil o salário não passa de R$1.500,00. Entretanto é uma profissão de grande valor, porque até para se dar início à uma construção de um edifício é preciso ter um carpinteiro no local, porque sem ele a obra nem começa, já que é preciso de andaimes, e sem andaimes não tem prédio.

Eu penso que para vivermos bem, não precisamos de muito, pois muito sem Deus não temos nada, porém pouco com Deus, temos tudo. E você, o que pensa em relação ao voto de pobreza? Comente logo abaixo. Pax,

sábado, 28 de janeiro de 2012

Estamos de volta!

Prezados irmãos e irmãs, estamos de volta!

É com muita alegria que restauro este blog, pois depois de eu tê-lo excluído com todas as postagens há alguns meses atrás, hoje (28/01/2012), dia do meu aniversário (31 anos), a Igreja Católica celebrando o dia de Santo Tomás de Aquino, resolvi restaurá-lo — mas infelizmente sem as antigas postagens, para evitar as polêmicas que as mesmas vinham causando.

Por que decidi restaurá-lo? Porque após ler a Carta Encíclica Fides Et Ratio do Beato João Paulo II, achei que se fazia necessário voltar e oferecer este blog a esse santo que hoje a Igreja celebra, a saber, Santo Tomás de Aquino.

Ora, o Beato João Paulo II escreveu nessa encíclica:

"A FÉ E A RAZÃO (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio" (cf. Ex 33, 18; Sal 2726, 8-9; 6362, 2-3; Jo 14, 8; 1 Jo 3, 2).

É com este pensamento do Beato João Paulo II que quero conduzir este blog. Em breve vocês terão muitas novidades, — artigos inscritos numa linguagem coloquial.

Desde já agradeço a todos que lêem e aos que vão passar a ler meus artigos. Que Santo Tomás de Aquino rogue para que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ilumine com a sua divina Luz e nos conceda Sua Sabedoria. Pax,