Mostrando postagens com marcador Deus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Deus. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 23 de agosto de 2022

A vingança pertence ao Eterno

A vingança pertence ao Eterno
A vingança pertence ao Eterno.

O sábio é aquele que, mesmo sabendo quem lhe fez mal, não busca a vingança, porém através da Theosis entrega-o nas mãos do Dominus Deus Sabaoth, por o justo ser aquele que dar ao outro o que ele merece, segundo os preceitos divinos. 

Então o sábio fica assistindo o ímpio (mesmo este não sabendo que o sábio sabe que foi ele quem lhe fez mal), ser castigado, pois a vingança pertence a Iahweh

Ora, o cristão verdadeiro sempre pagará o mal com o bem, já que é assim a vontade do Eterno

Miserére nobis! 🙏🏻

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

À procura da vida interior

A visão imediata de Deus ultrapassa as forças naturais de toda e qualquer inteligência criada, angélica ou humana. Uma inteligência criada pode, em sua atividade natural, conhecer a Deus pelo reflexo de suas perfeições na ordem criada, mas não pode vê-lo diretamente em Si mesmo como Ele se vê.

O anjo e a alma humana só se tornam capazes de um conhecimento sobrenatural de Deus e de um amor sobrenatural por Ele se tiverem recebido este enxerto divino que é a graça habitual ou santificante, participação da natureza divina ou da vida íntima de Deus. Só essa graça, recebida na essência de nossa alma como um dom gratuito, pode torná-la radicalmente capaz de operações propriamente divinas, isto é, de ver a Deus diretamente como Ele se vê e de O amar como Ele se ama.

Em outros termos, a deificação da inteligência, e a da vontade, supõe uma deificação da própria alma (em sua essência), donde derivam essas faculdades.

Essa graça, quando está consumada e inamissível, se chama a glória, e dela procedem, na inteligência dos bem-aventurados do céu, a luz sobrenatural que lhes dá a força de ver a Deus, e, na vontade, a caridade infusa que lhes fez amá-Lo, sem que possam daí em diante desviar-se d’Ele.

Em muitas ocasiões, já o notamos, Jesus repete: “Aquele que crê em mim tem a vida eterna”. Não somente ele vai tê-la mais tarde, mas, num sentido, já a tem, porque a vida da graça é a vida eterna começada.

É, com efeito, a mesma vida em seu fundo, como o germe que está num fruto de carvalho tem a mesma vida que o carvalho desenvolvido; como a alma espiritual da criança pequena é a mesma que, um dia, desabrochará no homem feito.

No fundo, é a mesma vida divina, que está em germe no cristão aqui em baixo, e que está plenamente desabrochada nos santos do céu, que são verdadeiros viventes da vida da eternidade.

É a mesma vida sobrenatural, a mesma graça santificante, que está no justo aqui em baixo e nos santos do céu; é também a mesma caridade infusa, com duas diferenças. Aqui em baixo nós conhecemos a Deus não na claridade da visão, mas na obscuridade da fé infusa; e, além disso, ainda que esperemos possuí-Lo de modo inamissível, aqui embaixo podemos perdê-Lo por nossa culpa.

Mas, apesar dessas duas diferenças, relativas à fé e à esperança, é a mesma vida, porque é a mesma graça santificante e a mesma caridade; elas devem durar eternamente.

UMA CONSEQÜÊNCIA IMPORTANTE

Segue-se, desde agora, do que acabamos de dizer, ao menos uma suposição quanto ao caráter não extraordinário da contemplação infusa dos mistérios da fé e da união com Deus que resulta disso. Esta suposição se confirmará mais e mais a seguir e se tornará uma certeza.

A graça santificante e a caridade, que nos unem a Deus em sua vida íntima, são, com efeito, muito superiores às graças gratis datae e extraordinárias, como a profecia e o dom das línguas, que são apenas sinais da intervenção divina e que por si mesmos não nos unem intimamente a Deus. São Paulo o afirma muito claramente, e SantoTomás o explica muitíssimo bem.

Ora, é da graça santificante, chamada “graça das virtudes e dos dons”, recebida por todos no batismo, e não das graças gratis datae e extraordinárias, que procede, nós o veremos, a contemplação infusa, ato da fé infusa, esclarecida pelos dons da inteligência e da sabedoria. Nisso os teólogos geralmente estão de acordo. Há então, desde agora, uma séria suposição de que a contemplação infusa e a união com Deus que daí resulta não são em si extraordinárias, como a profecia ou o dom das línguas; e, se elas não são em si extraordinárias, serão encontradas na vida normal da santidade.

Uma segunda razão é mais palpável ainda e deriva imediatamente do que acabamos de dizer: a graça santificante, estando por sua própria natureza ordenada para a vida eterna, é também ordenada de si, de modo normal, à disposição próxima perfeita para receber logo a luz da glória.

Com efeito, como a graça santificante é, de si, ordenada à vida eterna, ela também é ordenada a uma disposição próxima para receber a luz da glória logo após a morte, sem passar pelo purgatório. Porque o purgatório é uma pena que supõe uma falta que podia ter sido evitada, e uma insatisfação insuficiente, que podia ter sido completa, se tivéssemos aceitado melhor as penas da vida presente. É certo, com efeito, que alguém só será retido no purgatório pelas faltas que podia ter evitado ou pela negligência em repará-las. Normalmente, deveria ter feito seu purgatório nesta vida, tendo mérito, crescendo no amor, ao invés de fazê-lo depois da morte, sem ter mérito.

Ora, a disposição próxima para receber a luz da glória logo após a morte supõe uma verdadeira purificação, análoga à que se encontra nas almas que vão sair do purgatório, e que têm um desejo ardente da visão beatífica. Esse desejo ardente só existe ordinariamente nesta vida na união com Deus que resulta da contemplação infusa dos mistérios da salvação. Esta parece bem, desde agora, não ser uma graça extraordinária, mas uma graça eminentemente na via normal da santidade.

A VIDA INTERIOR E A CONVERSA ÍNTIMA COM DEUS

Nostra conversatio in coelis est (Nossa conversação está no céu). (Fp 3, 20)

A vida interior, dizíamos nós, supõe o estado de graça, que é o germe da vida da eternidade. Entretanto, o estado de graça, que existe em toda criança após o batismo e em todo penitente que tenha recebido a absolvição de suas faltas, não basta para constituir o que se chama habitualmente a vida interior do cristão. É necessário, ainda, uma luta contra aquilo que nos faria recair no pecado e uma tendência séria da alma para Deus.

Deste ponto de vista, para fazer compreender o que deve ser a vida interior, convém compará-la com a conversa íntima que cada um de nós tem consigo mesmo. Sob a influência da graça, se formos fiéis, essa conversa íntima tende a se elevar, a se transformar e se tornar uma conversa com Deus. Eis aí uma observação elementar; mas as verdades mais vitais e mais profundas são as verdades elementares em que se pensou durante muito tempo, das quais se vive, e que acabam por tornar-se objeto de contemplação quase contínua.

Consideremos sucessivamente essas duas formas de conversa íntima, uma humana, e outra cada vez mais divina ou sobrenatural.

A CONVERSA DE CADA UM CONSIGO MESMO

Desde que o homem cesse de se ocupar exteriormente, de falar com seus semelhantes, desde que se encontre só, mesmo no meio do barulho de uma cidade grande, ele começa a entreter-se consigo mesmo. Se é jovem, pensa frequentemente em seu futuro; se é velho, pensa no passado, e sua experiência feliz ou infeliz da vida fá-lo habitualmente julgar de maneira muito diferente as pessoas e os acontecimentos.

Se o homem permanece essencialmente egoísta, sua conversa íntima consigo mesmo é inspirada pela sensualidade ou pelo orgulho; ele se entretém com o objeto de sua cupidez, de sua inveja, e, como encontra em si mesmo a tristeza, a morte, busca fugir de si, exteriorizar-se, divertir-se para esquecer o vazio e o nada de sua vida.

Assim, a conversa íntima do egoísta consigo mesmo acaba na morte e não é, então, uma vida interior. Seu amor de si o leva a querer fazer-se o centro de tudo, a conduzir tudo a si, as pessoas e as coisas; e, como isso é impossível, ele frequentemente chega ao desencanto e ao desgosto; torna-se insuportável para ele mesmo e para os outros e acaba por se odiar por ter querido amar-se demasiadamente; às vezes acaba por odiar a vida por ter desejado demasiadamente aquilo que há de inferior nela.

Apesar de tudo, nas horas de isolamento, a conversa íntima recomeça, como que para provar ao homem que ela não pode parar. Ele gostaria de interrompê-la, mas não pode. É o fundo da alma, que tem uma necessidade incoercível, à qual precisamos dar uma satisfação. Mas, na realidade, somente Deus pode responder a ela, e precisamos de qualquer modo tomar o caminho que leva a Ele. A alma tem necessidade de se entreter com outro que não seja ela mesma. Por quê? Porque ela não é o seu próprio fim último. Porque o seu fim é o Deus vivo, e porque ela só pode repousar n’Ele. Como diz Santo. Agostinho: “Irrequietum est cor nostrum, Domine, donec requiescat in te”.

São Paulo diz (1 Cor 2, 11): “Pois quem dentre os homens conhece as coisas do homem senão o espírito do homem que nele reside? Assim também as que são de Deus ninguém as conhece senão o Espírito de Deus.”

Mas o Espírito de Deus manifesta progressivamente às almas de boa vontade o que Deus deseja delas e o que Ele lhes quer dar. Pudéssemos receber docilmente tudo o que Deus nos quer dar! O Senhor diz àqueles que o procuram:  “Tu não me procurarias, se já me não tivesse encontrado.”

Essa manifestação progressiva de Deus à alma que o procura não se dá sem luta; é necessário desembaraçar-se dos laços que são as consequências do pecado, e pouco a pouco desaparece o que São Paulo chama de “homem velho” e se forma “o homem interior”.

Ele escreve aos Romanos (7, 21): “Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, apresenta-se em mim o mal. Deleito-me na lei de Deus, segundo o homem interior. Sinto, porém, nos meus membros outra lei, que luta contra a lei do meu espírito.”

O que São Paulo chama de “homem interior” é o que há de principal e mais elevado em nós: a razão esclarecida pela fé e a vontade devem dominar a sensibilidade, comum ao homem e ao animal.

O mesmo São Paulo diz ainda: “Não percamos a coragem; ao contrário, na própria medida em que o homem exterior vai desaparecendo em nós, o homem interior se renova dia a dia.” Sua juventude espiritual é constantemente renovada, como a da águia, pelas graças que recebe todos os dias; assim como o padre que sobe ao altar pode sempre dizer, ainda que tenha 90 anos: “Introibo ad altare Dei, ad Deum qui laetificat juventutem meam — Eu venho ao altar de Deus, ao Deus que alegra a minha juventude” (Sl 13, 4).

À luz dessas palavras inspiradas, que lembram tudo o que Jesus, pregando as Beatitudes, nos prometeu e tudo o que Ele nos deu morrendo por nós, podemos definir a vida interior

É uma vida sobrenatural que, por um verdadeiro espírito de abnegação e de oração, nos fez tender à união com Deus e a ela nos conduz.

Ela implica uma fase em que domina a purificação; outra, de iluminação progressiva, em vista da união com Deus, como ensina toda a Tradição, que distinguiu assim a via purificativa dos iniciantes, a via iluminativa dos que progridem e a via unitiva dos perfeitos.

A vida interior torna-se, assim, cada vez mais uma conversa com Deus, em que pouco a pouco o homem se desprende do egoísmo, do amor-próprio, da sensualidade, do orgulho.

Santo Tomás insistiu muitas vezes neste ponto. Ele o fez particularmente em dois capítulos importantes da Contra Gentes, 1, c. XXI, XXII, sobre os efeitos e os sinais da habitação da Santíssima Trindade em nós.

“O mais próprio da amizade parece ser o conversar na companhia do amigo. Ora, a conversa do homem com Deus consiste em sua contemplação, como já dizia o Apóstolo (Fp 3, 20): ‘Nossa conversação está no céu’. Logo, como o Espírito Santo nos fez amar a Deus, consequentemente somos constituídos como contempladores de Deus pelo Espírito Santo. Por isso diz o Apóstolo: ‘Mas todos temos o rosto descoberto, refletimos, como num espelho, a glória do Senhor, e vemo-nos transformados nesta mesma imagem, sempre mais resplandecente, pela ação do Espírito do Senhor’.”

Aqueles que meditarem esses capítulos XXI a XXII do I. IV da Contra Gentes poderão averiguar se, para Sto. Tomás, a contemplação infusa dos mistérios da fé está ou não na via normal da santidade. São Francisco de Sales observa em algum lugar que, enquanto o homem, ao crescer, deve bastar-se e depende cada vez menos de sua mãe, que se lhe torna menos necessária quando ele atinge a idade adulta, e sobretudo a maturidade plena, o homem interior, ao contrário, toma ao crescer cada dia maior consciência de sua filiação divina, que o faz filho de Deus, e se torna cada vez mais criança em face d’Ele, até entrar por assim dizer no seio de Deus; os bem-aventurados no céu permanecem sempre nesse seio de Deus.

Jesu, spes poenitentibus,

Quam pius es petentibus!

Quam bonus te quoerentibus!

Sed quid invenientibus!

Ó Jesus, esperança dos penitentes,

Quão terno sois para aqueles que vos imploram,

Bom para aqueles que vos procuram,

Mas o que não sois para aqueles que vos encontram!

Nec lingua valet dicere

Nec Littera exprimere,

Expertus potest credere

Quid sit Jesum diligere.

Nem a língua pode dizer

Nem a Escritura exprimir

O que é amar ao Salvador;

Aquele que experimentou, pode crer nisso.

Sejamos daqueles que O procuram, a quem está dito: “Tu não me procurarias se já não me tivesses encontrado.”

sábado, 11 de abril de 2020

Jesus, a Luz que brilhou nas trevas dos corações — Feliz Páscoa!

Aleluia! Ele ressuscitou! Ele vive... Ele reina!

Prezados Irmãos e irmãs,

Desejo-lhes uma Feliz Páscoa!

Que a Lumen Christi nasça em vossos corações — é o que desejo a vocês todos. Ora, O Astro luminoso veio habitar entre nós, pois como disse São Lucas: "Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, pelo qual nos visita o Astro das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e na sobra da morte, para guiar nossos passos no caminho da paz" (São Lucas 1, 78-79).

E, São Pedro deseja-nos a mesma coisa: "Temos, também, por mais firme a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em recorrer como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a Estrela D'alva em nossos corações" (2 Pedro 1, 19).

São Pedro e eu não estamos sozinhos nesse desejo, já que Nosso Senhor Jesus Cristo deseja para nós todos a mesma coisa, quando diz: "Conforme também eu recebi de meu Pai. Dar-lhe-ei ainda a Estrela da manhã. Quem tem ouvidos, ouça o que diz o Espírito às Igrejas" (Apocalipse 2, 28-29).

Quem é esse Astro luminoso? Quem é essa Estrela? Conto-lhes: é Jesus Cristo. É Ele mesmo que, nesta manhã, ressurgiu como uma estrela luminosa de dentro do sepulcro para iluminar as trevas dos nossos corações. Por isso Ele disse: "Eu, Jesus enviei meu Anjo para vos atestar estas coisas a respeito das Igrejas. Eu sou o rebento da estirpe de Davi, a brilhante Estrela da manhã" (Apocalipse 22, 16).

Peço-lhes meus irmãos e irmãs em Cristo Jesus, que vocês gritem nesta manhã: Vem! Peçam que essa Luz venha habitar em vossos corações, pois as trevas dos nossos corações precisam e, esse é o desejo de nosso Pai que está no Céu. Iahweh, através de Seu Filho pediu que nós todos clamemos o "Vem!", já que Este segundo disse: "O Espírito e a Esposa dizem: 'Vem!' Que aquele que ouve diga também: 'Vem!' Que o sedento venha, e quem deseja, receba gratuitamente água da vida" (Apocalipse 22, 17).

Vem Senhor! Desejem o mesmo... peçam ao Senhor que conceda-lhes a Estrela em vossos corações, corações estes que, estão dentro de corpos, corpos estes que têm muitas águas... peçam a Água Viva!

Que a lucifer Christi habite para sempre em nossos corações!

Cantem comigo o Exsúltet:
Oremus,

Frank Matos

sábado, 21 de março de 2020

A oração de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras

1. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: 'Meu Pai' (Mt 26, 39).

Aqui, Nosso Senhor nos recomenda três condições a serem observadas quando rezarmos:

(i) Solicitude: pois adiantou-se um pouco, separando-se até daqueles que havia escolhido - Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo (Mt 6, 6). Mas note-se que ele não foi muito longe, mas um pouco, para que pudesse mostrar que não estava longe daqueles que o invocam, e também para que o vissem rezando e aprendessem a rezar do mesmo modo.

ii) Humildade: prostrando-se com a face por terra, deu assim um exemplo de humildade. Isto porque a humildade é necessária à oração e porque Pedro tinha dito: Mesmo que seja necessário morrer contigo, ja mais te negarei! (Mt 26, 35). Portanto Nosso Senhor prostrou-se, para mostrar que não se deve confiar nas próprias forças.

(iii) Devoção: ao dizer 'Meu Pai'. É essencial que ao rezar, rezemos com devoção. Ele diz Meu Pai porque ele é singularmente o Filho de Deus; nós som filhos de Deus por adoção somente.

2. 'Se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que Tu queres' (Mt 26, 39)

   Aqui consideramos o teor da oração. Cristo estava rezando de acordo com as sugestões de seus sentidos naturais, isto é, na medida em que sua oração, advogando em favor de seus sentidos, expressava as inclinações de seus sentidos, propondo para Deus, pela oração, que o desejo de seus sentidos sugeria. Ele assim o fez para nos ensinar três coisas:

(i) Que ele tinha assumido uma natureza verdadeiramente humana com todas as suas inclinações naturais.;

(ii) Que é lícito ao homem querer, de acordo com suas inclinações naturais, algo que Deus não quer;

(iii) Que o homem deve submeter suas próprias inclinações à vontade divina. Daí Santo Agostinho dizer: "Cristo, enquanto homem, demonstrou certa propensão pessoal humana quando disse: Afasta de mim este cálice. Isto era inclinação humana, a vontade de um homem e, por assim dizer, seu desejo íntimo. Mas Cristo, por querer ser um homem de coração reto, um homem ordenado a Deus, acrescenta: "Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que Tu queres".

S. Th. Ma, q. 21,a2

   E com isso ele ensina, dando exemplo, como devemos ordenar nossas inclinações para que elas não entrem em conflito com a lei divina. Disso aprendemos que não há nada de errado em nossa repulsa ao que naturalmente repugnante, contanto que alinhemos nossas emoções com a vontade divina.

   Cristo tinha duas vontades: a de seu Pai, porquanto Ele era Deus, e outra, na medida em que Ele era homem. Esta vontade humana Ele submeteu em todas as coisas a seu Pai, dando-nos com isso um exemplo para que façamos o mesmo - Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6, 38).

Super Matth, c. 26, lect. 5

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Não vos iludais; de Deus não se zomba!

Observo como o ímpio é cego quando faz suas escolhas, cego pois estas sempre lhe faz "cair no buraco", já que o mundo que ele tanto ama, diz que aquele acontecimento que trouxe-lhe prejuízo financeiro — queda no buraco — foi ruim para ele. Entretanto, enganam-se porque o maior prejuízo do ímpio é aquele deixado na alma, manchas indeléveis pelo pecado de suas escolhas. Isso sim é ruim.

Ora, como pode uma escolha ser boa em si mesma se, esta trás prejuízo — não só financeiro, como espiritual — para o ímpio que fez tal escolha? Assim é a vida do ateu, quando faz a escolha de viver neste mundo afastado da proteção Divina, recusando-a quando passa o dia praguejando.

Analise comigo a escolha e o exemplo dado por Thomas Andrews, engenheiro naval que, junto de Alexander Carlisle, teria (provavelmente) dito: "Nem Deus afunda esse navio!". Tsc, tsc, tsc... Escolha errônea!

Qual não foi sua surpresa quando, O Criador das coisas visíveis e invisíveis, envia-lhes um grande iceberg para acabar com sua arrogância. Digo que Deus agiu assim pois, Jesus disse: "Até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (São Lucas 12, 7), ou seja, Ele sempre sabe de tudo. Deus sabia das palavras de Alexander Carlisle. O Criador não deixa de castigar os maus e abençoar os bons. Como seria diferente para àqueles (Thomas Andrews e Alexander Carlisle) que, pronunciaram palavras torpes contra Aquele que é onisciente e onipotente?

Mas Deus é mau assim?! Perguntarão alguns que não conhecem a Deus. Não, O Senhor não é mau, mas permite que a liberdade do homem seja exercida plenamente, com total livre-arbítrio. Porém, para cada escolha que fazemos, vem com elas as consequências. Se um ímpio escolhe rejeitar O Filho de Deus, como poderá ficar impune, já que tal benevolência foi infinita por esse Deus, o Pai? Qual Pai ficaria satisfeito com aquele que rejeitou uma morte tão dolorida de um filho tão amado por Ele? Nenhum!

E, se as consequências dessas escolhas (cegas e arrogantes) não vem nesta vida, virá na próxima — não há escapatória —, simples assim.

Então, não seria melhor receber essas consequências (causadas pela escolhas erradas) agora, já em vida, sendo que essas consequências trás consigo absolvição dos pecados cometidos? Como pode Deus ser mau, se Ele não quer a condenação de nenhum homem? Por isso, faz com que o homem pague ainda vivo, já que Ele sabe que após a morte do homem — na eternidade —, existe o Inferno, lugar criado por Satanás para aprisionar o homem condenado.

Penso que os homens deveriam fazer o uso da razão (com Fé verdadeira) ao fazerem suas escolhas, porque caso contrário poderiam fazer uma escolha errada, trazendo com estas escolhas, consequências gravíssimas, como foi o caso do projetista do navio Titanic: falou contra Deus e foi castigado.

Os seculares costumam dizer: Com Deus não se brinca. Ledo engano. Deus ama brincar com os seus, por isso disse: "Deixai as crianças e não as impeçais de vir a mim, pois delas é o Reino dos Céus" (São Mateus 19, 14). Entretanto, não se deve zombar d'Ele como disse São Paulo: "Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear [com suas escolhas erradas], isso colherá [sofrendo as consequências]: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna" (Gálatas 6, 7-8).

E diz mais: "E que fruto colhestes então daquelas coisas de que agora vos envergonhais? Pois seu desfecho é a MORTE. Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de Deus, tendes vosso fruto para a santificação e, como desfecho, a vida eterna. Porque o salário do pecado é a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6, 21-23).

Peço-vos irmão, tendes cuidado com vossas vidas, pois a mesma é única. Depois da morte corporal, vem um juízo particular com Aquele que, por ventura vier vós à rejeitar. Ele poderá lançar-vos no Inferno, ou poderá recebê-los no Céu Eterno. A escolha é vossa! "Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua descendência, amando a Iahweh teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele. Porque disto depende a tua vida e o prolongamento dos teus dias. E assim poderás habitar sobre este solo que Iahweh jurara dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó" (Deuteronômio 30, 19-20).

Alguns ateus dizem que o deus deles é o dinheiro, ou seja, Mamon. Mas, parece-me que esse deus abandona-os sempre, já que eles vivem em prejuízo financeiro, sem falar do maior prejuízo, que é o prejuízo de abandonar o único Deus para adorar ídolos.

O que adianta o homem possuir todos os bens materiais deste mundo, se vier a perder sua alma no inferno?! É o que diz Nosso Senhor no Santo Evangelho: "Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e arruinar sua própria vida? Pois, que daria o homem em troca da sua vida?". E, alertando-nos diz mais: "De fato, aquele que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos" (São Marcos 8, 36-38). Ele encerra contando-nos a Parábola do Rico insensato:

Não entesourar 

"Alguém da multidão lhe disse: 'Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança'. Ele respondeu: 'Homem, quem me estabeleceu juiz ou árbitro da vossa partilha?' Depois lhe disse: 'Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens'. E contou-lhes uma parábola: 'A terra de um rico produziu muito. Ele, então, refletia: 'Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha colheita'. Depois pensou: 'Eis o que farei: demolirei meus celeiros, construir maiores, e lá recolherei todo o meu trigo e os meus bens. E direi à minha alma: Minha alma, tens uma quantidade de bens em reserva para muitos anos; repousa, come, bebe, regala-te'. Ma Deus lhe diz: 'Insensato, nessa mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão?' Assim acontece àquele que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus" (São Lucas 12, 13-21).

É com estas palavras de Nosso Senhor que despeço-me pedindo que rezem juntos comigo:

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de Vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que me separe de Vós.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós, para que Vos louve com os vossos Santos, por todos os séculos dos séculos. Amém.

Paz de Cristo,

sábado, 28 de janeiro de 2017

28 de janeiro, dia de Santo Tomás de Aquino

Embora o Magistério lhe atribua, por sua inigualável contribuição à teologia, o título de "Doutor Angélico", Santo Tomás de Aquino vem caindo no esquecimento ano após ano.

Mas qual é a verdadeira posição da Igreja em relação à teologia tomista? A doutrina do Aquinate estaria porventura ultrapassada?

Embora o Magistério lhe atribua o título de Doctor Angelicus, por sua inigualável contribuição à teologia, Santo Tomás de Aquino vem caindo no esquecimento ano após ano. Em alguns casos, chega-se a considerá-lo matéria ultrapassada, sobre a qual não valeria mais a pena discutir. Os estudos teológicos, com efeito, deveriam ser pautados apenas pelos conceitos modernos de investigação, não por teses medievais.

Mas essa, sem sombra de dúvida, não é a posição da Igreja Católica. O Concílio Vaticano II, superando qualquer outra afirmação conciliar já feita - mesmo as de Trento -, deu a Santo Tomás de Aquino o posto de “o guia" da teologia e da filosofia. Por duas vezes, os padres conciliares se referem a ele nesses termos. A Declaração Gravissimum Educationis, que versa sobre a educação cristã, por exemplo, diz o seguinte: “se veja mais profundamente como a fé e a razão conspiram para a verdade única, segundo as pisadas dos doutores da Igreja, mormente de S. Tomás de Aquino". E assim também a Optatam totius, sobre a formação dos sacerdotes: “Depois, para aclarar, quanto for possível, os mistérios da salvação de forma perfeita, aprendam a penetrá-los mais profundamente pela especulação, tendo por guia Santo Tomás, e a ver o nexo existente entre eles".

Contudo, apesar das claras admoestações do Concílio, bastou que Paulo VI dissesse “Ite, missa est", para que Santo Tomás de Aquino fosse varrido do mapa. A impressão que se tinha era que o Vaticano II havia relativizado a importância do Doctor Angelicus, como se já não importasse mais a sua contribuição. Nada mais fantasioso.

O Magistério posterior ao Concílio continuou a insistir na teologia de Santo Tomás. Paulo VI, na Carta Apostólica Lumen Ecclesiae. João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio. O Código do Direito Canônico, no cânon 252, dizendo, novamente sobre a formação dos sacerdotes, que “haja lições de teologia dogmática, baseadas sempre na palavra de Deus escrita, juntamente com a sagrada Tradição, com cujo auxílio os alunos aprendam a penetrar mais intimamente o mistério da salvação, tendo por mestre principalmente a S. Tomás". E, finalmente, Bento XVI: “A profundidade do pensamento de São Tomás de Aquino brota – nunca o esqueçamos – da sua fé viva e da sua piedade fervorosa".

Ora, está mais do que óbvio que nem o Concílio nem o Magistério posterior a ele descartaram a teologia de Santo Tomás. A Igreja, muito pelo contrário, fez um esforço imenso para que o seu modelo fosse adotado em todos os âmbitos da formação cristã. Se, no entanto, surgiu a impressão de que o Doctor Angelicus estava obsoleto, tratou-se de uma mentira, de uma falsidade ideológica que, infelizmente, ainda hoje, faz muitas vítimas e que se pauta numa visão totalmente alheia ao Vaticano II, muitas vezes lhe subtraindo o sentido, dividindo a Igreja de Cristo em pré e pós Conciliar. Foi exatamente essa visão que Bento XVI tanto combateu durante os seus oito anos de pontificado, ensinando que “a alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do Concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao Concílio, deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes de que vive a árvore".

Muitas das declarações equivocadas que circulam nos corredores de seminários, paróquias e, até mesmo, jornais devem-se à falta de conhecimento de Santo Tomás. Falta-lhes a capacidade de ordenar as coisas, tal qual pedia o Doutor da Igreja. Sem a ordem, é impossível um diálogo sincero, uma vida limpa e, sobretudo, o encontro com a Verdade. É exatamente assim que surge sobre o sentido da fé cristã aquela “névoa de incerteza" - da qual falava o então Padre Joseph Ratzinger - “mais pesada do que em qualquer outro momento da história".

É preciso voltar a Santo Tomás de Aquino. Nele, não somente se encontram ensinamentos seguros, como também a piedade cristã que leva para Deus. Com o Doctor Angelicus, todos são instados a orar, suplicando ao Senhor: "Concedei-me, suplico-vos, uma vontade que vos procure, uma sabedoria que vos encontre, uma vida que vos agrade, uma perseverança que vos espere confiadamente e uma confiança que no final chegue a possuir-vos".