Nos últimos dias, os motores de busca e as redes sociais foram tomados por uma avalanche de pesquisas e notícias com um tema central: Carla Zambelli presa. A possibilidade da detenção de uma deputada federal, seja na Itália por alegações do deputado Angelo Bonelli ou em solo nacional, acende um estopim em um cenário político já conflagrado. Contudo, para além da veracidade factual do evento, que muitas vezes se perde na névoa da desinformação, a situação nos convida a uma reflexão mais profunda, a uma análise que transcenda o partidarismo e mergulhe nas raízes do que entendemos por justiça, poder e, em última instância, o propósito do homem na sociedade. Sob a luz da filosofia de São Tomás de Aquino, podemos desvelar as camadas deste complexo momento, não para defender uma facção, mas para buscar a verdade que orienta o bem comum e a salvação das almas.
A Justiça Divina e a Justiça dos Homens: Uma Perspectiva Tomista
Para São Tomás de Aquino, a justiça é "a constante e perpétua vontade de dar a cada um o que lhe é devido" (Summa Theologiae, II-II, q. 58, a. 1). Esta definição, herdada do direito romano, ganha no tomismo uma dimensão transcendente. A justiça dos homens, expressa nas leis positivas, só é verdadeiramente justa quando está em conformidade com a Lei Natural, que por sua vez é uma participação da Lei Eterna, que reside na própria mente de Deus.
Quando o poder judiciário, encarnado em figuras como o ministro Alexandre de Moraes, age de forma que gera na população uma percepção generalizada de parcialidade ou de excesso, o que está em jogo não é apenas a biografia de um político. O que se corrói é a própria fundação da
O Bem Comum Ameaçado pela Percepção de Perseguição
O conceito de Bem Comum é central no pensamento político tomista. Ele não é a soma dos bens individuais, mas o conjunto de condições sociais que permitem aos indivíduos e às famílias alcançarem mais plena e facilmente a sua própria perfeição, inclusive a espiritual. A paz, a segurança jurídica e a concórdia social são componentes essenciais do Bem Comum.
Ações judiciais que são percebidas como uma "caça às bruxas" ou uma "perseguição política" — independentemente de sua motivação real — são veneno para o Bem Comum. Elas geram medo, incerteza e ressentimento. Fomentam a divisão e minam a confiança nas instituições, que deveriam ser as guardiãs da ordem social. Do ponto de vista da fé, um clima de perseguição e instabilidade política é um obstáculo à evangelização e à vida virtuosa, pois as paixões políticas inflamadas desviam o foco do homem de seu fim último: Deus. A preocupação com a "prisão de Zambelli", as acusações de Joice Hasselmann ou as manobras da Interpol se tornam o centro da vida de muitos, obscurecendo a busca pela santidade.
A Virtude da Prudência e o Exercício do Poder
Se a justiça é o objetivo, a prudência é a virtude que guia o caminho. Para São Tomás, a prudência é a "reta razão no agir" (recta ratio agibilium), a capacidade de discernir o verdadeiro bem em cada circunstância e de escolher os meios adequados para realizá-lo. Um juiz, especialmente de uma suprema corte, não pode ser apenas um aplicador mecânico da lei; ele precisa ser eminentemente prudente.
Suas decisões devem considerar não apenas o caso concreto, mas as repercussões de seus atos para toda a sociedade. Ações que, mesmo sob o manto da legalidade, incendeiam ainda mais o país, aprofundam a polarização e são vistas como arbitrárias, falham no teste da prudência. Elas podem até atingir um objetivo legal imediato, mas a um custo altíssimo para o Bem Comum e para a estabilidade do
A Resposta Cristã: Oração, Verdade e a Salvação da Alma
Diante de um cenário tão conturbado, onde nomes como Carla Zambelli e Alexandre de Moraes se tornam símbolos de uma batalha campal, a perspectiva católica nos chama a uma postura radicalmente diferente daquela do mundo. A primeira resposta não é o ataque, mas a oração. São Paulo nos exorta a orar "pelos reis e por todos os que estão em autoridade, para que possamos viver uma vida tranquila e serena, em toda a piedade e honestidade" (1 Timóteo 2:2). Devemos rezar pela conversão e iluminação de todos os envolvidos: dos juízes, para que ajam com justiça e prudência; dos políticos, para que busquem o verdadeiro Bem Comum; e do povo, para que não se deixe levar pelo ódio.
A nossa luta, como ensina a fé, não é primariamente política. O verdadeiro inimigo é o pecado, e a verdadeira perseguição é aquela que tenta afastar a alma de Deus. A preocupação central da Igreja não é se a "direita" ou a "esquerda" vence, mas se as almas se salvam. E um ambiente de injustiça, mentira e ódio é um campo fértil para a perdição. A relação entre
Conclusão: Para Além da Notícia, a Busca pela Ordem
A questão "Carla Zambelli foi presa?" pode dominar as manchetes e os debates acalorados. Para um observador com a mente informada pelo tomismo, no entanto, esta é apenas a superfície de uma crise mais profunda. A verdadeira crise é a do abandono dos princípios de uma justiça fundamentada na verdade, de um poder exercido com prudência e de uma sociedade orientada para o Bem Comum.
Enquanto a justiça dos homens vacila e se torna palco de paixões políticas, cabe a nós elevar o olhar para a Justiça Divina, que não falha. Cabe-nos clamar não pela vitória de nosso "lado", mas pela restauração de uma ordem social justa, que permita a cada pessoa buscar livremente seu verdadeiro fim. Que as tribulações do presente nos sirvam não como motivo para o desespero e o ódio, mas como um chamado à oração, à penitência e a um engajamento mais profundo na construção de uma sociedade que reflita, ainda que palidamente, a ordem e a justiça do Reino de Deus.
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