quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O Voto de Fux e a Lei Natural: Uma Análise Tomista Sobre a Condenação de Bolsonaro e a Justiça no STF

A pergunta que ecoa pelo Brasil hoje em todas as conversas, das mais eruditas às mais populares, é uma só: Jair Bolsonaro foi condenado? A resposta, vinda diretamente do plenário do STF, é afirmativa. Contudo, para além do placar final e da agitação midiática transmitida pela TV Justiça ao vivo ou pela Jovem Pan News, uma análise mais profunda, fundamentada na perene filosofia de São Tomás de Aquino, revela fissuras graves não apenas no processo, mas na própria concepção de justiça que vem sendo aplicada. O recente julgamento de Bolsonaro no STF não foi apenas um evento político; foi um teste para a alma do direito brasileiro, e o surpreendente voto de Fux pode ter indicado uma brecha não apenas legal, mas metafísica, para um futuro “não tão distante”.

O Placar da Votação e a Sede de Justiça

A nação acompanhou ansiosamente a votação do julgamento de Bolsonaro. A contagem de votos, um a um, definia não apenas o destino de um ex-presidente, mas o rumo da jurisprudência nacional. Muitos se perguntavam quantos votos precisa para condenar Bolsonaro, mas a questão tomista primordial é outra: esses votos foram proferidos em busca da verdade e do bem comum, ou foram guiados por paixões e finalidades políticas? A justiça, para o Doutor Angélico, é a “constante e perpétua vontade de dar a cada um o que é seu por direito” (suum cuique tribuere). Ela é uma virtude que exige razão, prudência e uma reta ordenação ao bem.

Quando observamos a condução do processo, especialmente a atuação do ministro Alexandre de Moraes, cujo voto foi um dos mais aguardados, a crítica tomista se avulta. A concentração de poder, a flexibilização de garantias processuais e a aparente confusão entre o papel de investigador, acusador e julgador são elementos que ferem de morte a prudência, a virtude do governante e do juiz justo. Uma decisão judicial, para ser legítima, não pode ser apenas legal em sua forma; deve ser justa em sua substância. Uma lei ou um julgamento que contraria a Lei Natural — aquela razão divina inscrita no coração do homem — não é lei, mas uma “corrupção da lei”, como ensina São Tomás.

O Voto de Fux: Um Lampejo de Legalidade em Meio à Tempestade

Em meio a um placar que parecia selado, o voto do Fux soou como um trovão. Ao indicar uma falha processual grave, o ministro Luiz Fux, que foi indicado ao STF pela ex-presidente Dilma Rousseff, abriu uma fresta para a anulação de todo o julgamento. A argumentação do Fux ministro se alinha a um princípio fundamental do direito: os frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree). Se a origem da prova ou do processo é ilícita, tudo o que dele deriva está contaminado.

Do ponto de vista tomista, isso é mais do que uma mera tecnicalidade jurídica. É o reconhecimento de que os fins não justificam os meios. Uma condenação, por mais que seja desejada por um setor da sociedade, não pode ser obtida a qualquer custo, atropelando o devido processo legal. Quando Fux interrompe Moraes em sua linha de raciocínio ou apresenta uma divergência tão fundamental, ele não está apenas debatendo um artigo de lei; está, talvez sem o saber, ecoando um princípio tomista de que a ordem e a retidão do processo são essenciais para que a justiça humana se aproxime, ainda que minimamente, da justiça divina. O voto de Fux no caso Bolsonaro se tornou, assim, o epicentro de um debate sobre a própria validade do ato final.

Os Atores do Julgamento: Entre a Convicção e a Consequência

O STF julgamento Bolsonaro foi um palco onde diversos ministros tiveram seus papéis. A sociedade buscava entender: Cristiano Zanin é a favor ou contra Bolsonaro? E qual seria o posicionamento de Flávio Dino, recém-chegado à Corte? O voto Dino e as posições de outros membros, como o voto Cármen Lúcia, compuseram o mosaico que resultou na condenação de Bolsonaro.

Cada um desses votos carrega um peso imenso. A questão que um tomista colocaria a cada um dos ministros do STF seria: a sua decisão visou o restabelecimento da ordem justa para o bem comum do Brasil ou a satisfação de uma agenda particular? A acusação de organização criminosa é gravíssima e exige provas inequívocas e um processo imaculado. Quando o próprio processo é questionado por um par da Corte, como fez o ministro Fux, a legitimidade da condenação fica irremediavelmente abalada.

A Primeira Turma do STF, e de fato todo o plenário, tem o dever de agir não como uma assembleia política, mas como um tribunal de justiça. A justiça humana é falha, mas ela deve sempre aspirar à verdade. Quando a percepção pública é a de que o resultado precede o julgamento, a confiança no Poder Judiciário se esvai, e a autoridade que, segundo a doutrina clássica, emana de Deus para o bom governo, se desfigura em tirania.

Conclusão: A Justiça Humana e a Necessidade de Redenção

No final, o placar do julgamento de Bolsonaro indicou que Bolsonaro foi condenado. No entanto, a análise sob a ótica da filosofia tomista nos força a ir além da manchete da Folha ou do resultado exibido na tela da TV Justiça. Ela nos compele a perguntar sobre a essência do ato. Foi um ato de justiça ou um ato de poder? A lei humana foi aplicada em consonância com a Lei Natural ou foi distorcida para servir a um propósito transitório?

O voto de Luiz Fux não é uma garantia de absolvição para Jair Bolsonaro, mas é um alerta severo para o sistema de justiça brasileiro. Ele aponta para a possibilidade de que o edifício da condenação tenha sido construído sobre areia movediça processual. Para um tomista, a lição é clara: a justiça sem a verdade é vingança, e o poder sem a virtude é tirania. O Brasil assiste, apreensivo, esperando para ver se a brecha apontada por Fux será o caminho para a correção de um erro ou apenas uma nota de rodapé na história de um dos julgamentos mais controversos de nossa República.

 

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Tomista, dedico-me ao estudo da Filosofia, que pela luz natural da razão nos eleva ao conhecimento das primeiras causas, e da Teologia, a ciência sagrada que, iluminada pela Revelação, a aperfeiçoa e a ordena ao seu verdadeiro fim. Ambas as ciências são para mim os instrumentos para buscar a Verdade subsistente, que é Deus, o fim último para o qual o homem foi criado.

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