segunda-feira, 24 de abril de 2017

Santo Tomás de Aquino — A Oração para os Estudos e a Busca pela Sabedoria Divina

 


A busca pela sabedoria é uma jornada que transcende os limites do intelecto humano. Nesse contexto, Santo Tomás de Aquino, uma das figuras mais proeminentes da teologia e filosofia, oferece uma oração poderosa e profunda para aqueles que anseiam pelo conhecimento iluminado pela luz divina. A “Oração para os Estudos” de Santo Tomás é uma expressão eloquente do desejo de alcançar uma compreensão mais profunda, uma mente aguçada e uma língua erudita.

Na oração, Tomás de Aquino invoca o “Infalível Criador”, reconhecendo a fonte suprema da sabedoria e a ordem sublime que permeia o universo. Ele destaca a ordem celestial das hierarquias angelicais, que exemplificam a harmonia divina e a disposição ordenada das coisas criadas. Com essa imagem, ele nos lembra da importância da estrutura e da harmonia no processo de aquisição do conhecimento.

O pecado e a ignorância são identificados como “duplas trevas” que obscurecem a mente humana. Aqui, Santo Tomás reconhece a queda da humanidade e a separação de Deus, que resulta na limitação do entendimento humano. No entanto, ele busca a intervenção divina para dissipar essas trevas e permitir que a luz da verdade divina brilhe sobre a mente humana.

A erudição é comparada à fecundidade da língua das crianças. Isso ressalta a ideia de que, assim como as crianças aprendem a se expressar e a se comunicar, aqueles que buscam o conhecimento devem ser nutridos e guiados pelo próprio Criador. A bênção divina é vista como essencial para capacitar a linguagem humana, tornando-a uma ferramenta poderosa na busca pelo entendimento.

A oração prossegue com uma série de pedidos específicos. Acuracidade para entender, capacidade de reter, sutileza de relevar, facilidade de aprender, graça abundante de falar e escrever — todos esses aspectos são vistos como dons divinos que permitem que o indivíduo se torne um receptor receptivo e expressivo do conhecimento. Aqui, Santo Tomás reconhece a complexidade da aprendizagem e a variedade de habilidades necessárias para absorver e transmitir sabedoria.

A oração conclui com uma invocação a Deus como “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”, ressaltando a dualidade divina e humana de Cristo. Isso não apenas reforça a crença fundamental de Tomás na natureza divina de Cristo, mas também expressa a confiança na intercessão de um Salvador que entende plenamente as lutas e aspirações humanas.

Santo Tomás de Aquino, com sua oração, nos lembra que a busca pela sabedoria é uma jornada espiritual, intelectual e moral. A oração transcende as limitações humanas e busca a iluminação divina para guiar o processo de aprendizado. A harmonia, a luz e a graça são elementos centrais que permeiam essa oração, refletindo a profunda crença de Tomás na integração da fé e da razão.

Portanto, essa oração continua a inspirar e ressoar nos corações daqueles que desejam se aprofundar no conhecimento e na verdade. Ela nos lembra que, ao buscar a sabedoria, estamos também buscando uma conexão mais profunda com o Criador e a realização do nosso propósito como seres humanos dotados de racionalidade e espiritualidade. Que a “Oração para os Estudos” de Santo Tomás de Aquino continue a iluminar os caminhos daqueles que buscam a verdade e a sabedoria divina. Amém.

sábado, 22 de abril de 2017

A Profunda Sabedoria da Amizade segundo São Tomás de Aquino

 

A amizade é um tesouro raro e profundo, uma ligação que transcende o tempo e a distância, enraizada no compartilhamento de valores e objetivos. O filósofo e teólogo São Tomás de Aquino capturou a essência dessa relação em sua máxima: “Idem velle, idem nolle” — querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas. Nesta reflexão, exploraremos a riqueza dessa definição de amizade, destacando como ela se alinha com os princípios tomistas e a busca pela verdade.

São Tomás de Aquino, um dos maiores expoentes da filosofia e teologia cristã, entendia que a verdadeira amizade é forjada nas chamas da afinidade. Amigos genuínos não apenas compartilham alegrias e sucessos, mas também abraçam as dificuldades e desafios comuns. E o cerne dessa ligação reside na harmonia de vontades e rejeições mútuas. Quem compartilha valores, sonhos e ideais semelhantes encontra um terreno fértil para o florescimento da amizade duradoura.

É interessante notar que essa definição não se limita apenas ao âmbito humano. A própria relação entre Deus e o homem pode ser interpretada através desse prisma. Ao desejar a mesma verdade e rejeitar as mesmas falsidades, a alma humana encontra proximidade com o Divino. A busca pela verdade e pela virtude, pilares da filosofia tomista, cria uma base sólida para uma amizade profunda com Deus e, consequentemente, com os semelhantes que compartilham desses anseios.

O pensamento de São Tomás de Aquino também ecoa nas palavras de Olavo de Carvalho, que enfatiza a importância de escolher cuidadosamente as amizades. Ele nos lembra que não devemos nos contentar com relacionamentos mediocrizantes, que apenas nos rebaixam. Ao invés disso, devemos procurar companheiros que nos inspirem a crescer em nossa busca por sabedoria e verdade. Aqueles que não compartilham nossos ideais não são necessariamente inimigos, mas podem ser vistos como oportunidades para exercitar a caridade e a paciência, buscando orientá-los em direção à luz da compreensão.

No âmbito do cristianismo, a noção de amizade também se entrelaça com o conceito de caridade. Amar o próximo como a si mesmo é uma expressão máxima dessa ligação entre pessoas que compartilham o mesmo querer e o mesmo não querer. A caridade nos impele a enxergar além das diferenças superficiais e a buscar a união de almas que desejam o bem comum.

Em conclusão, a definição de amizade segundo São Tomás de Aquino ressoa como um farol na jornada da vida. Ela nos orienta a escolher nossas amizades com sabedoria, buscando aqueles que compartilham nossa busca por valores e verdades profundas. Essa concepção transcende a mera camaradagem, adentrando os reinos da espiritualidade e do divino. Ao seguir esse princípio, encontramos um caminho iluminado para cultivar relações que nos elevam, nos enriquecem e nos conduzem em direção à verdadeira plenitude.

Que a paz de Cristo guie cada um de nós nessa jornada de amizade e busca pela verdade.

sábado, 1 de abril de 2017

A Filosofia e Teologia de Santo Tomás de Aquino: Uma Jornada pela Sabedoria Divina

 

Santo Tomás de Aquino, conhecido como o Doutor Angélico, Doutor Comum e Doutor Universal, é indubitavelmente um dos maiores teólogos da Igreja Católica Apostólica Romana. Sua sabedoria filosófica muitas vezes é ofuscada por sua excelência teológica, mas suas contribuições à filosofia não devem ser subestimadas. As XXIV Teses Tomistas revelam sua autêntica filosofia e marcam o nascimento da “filosofia aristotélico-tomista”. Tomás de Aquino, embora baseado nas trilhas de Aristóteles, reformulou com discernimento os ensinamentos do filósofo grego, arquitetando sua própria filosofia.

A base da filosofia tomista reside na realidade das coisas, não em meras abstrações, e constrói um sistema coordenado de teses a partir da percepção sensível do mundo. O Papa Leão XIII, em sua encíclica Aeterni Patris, ressalta que Tomás de Aquino encontrou conclusões filosóficas nas razões fundamentais das coisas, que abrangem vastas verdades e foram desenvolvidas ao longo do tempo por mestres subsequentes.

A filosofia tomista se desenvolve a partir da percepção das coisas para alcançar as explicações últimas. Tomás de Aquino parte das percepções mais primitivas e alcança a certeza do Supremo Criador através de cinco vias. A existência do Deus é inferida a partir do movimento, da causalidade, da contingência, das perfeições e da ordem do mundo. A filosofia tomista não entra em conflito com a fé; ao contrário, demonstra a harmonia entre fé e razão.

Santo Tomás afirmava que a verdade pertence a todos e que “toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do ESPÍRITO SANTO. Sua filosofia é uma proclamação do Ser, uma celebração da existência, e esta filosofia foi adotada pela Igreja. Três Papas declararam que “A Igreja fez sua, a doutrina de Santo Tomás de Aquino”.

Santo Tomás não construiu sua filosofia isoladamente; ele assimilou as contribuições de vários pensadores, desde Platão e Aristóteles até os Padres da Igreja e a metafísica implícita na Revelação. Ele uniu essa herança à sua própria contribuição, formulando sua admirável Filosofia Tomista, condensada nas XXIV Teses.

Sua obra "O Ente e a Essência" explora questões metafísicas, a relação entre sensação e concepção, e a capacidade humana de distinguir certo e errado. Tomás de Aquino rejeitou a visão de que a alma possui conhecimento inato, enfatizando que o conhecimento é extraído dos sentidos e da experiência.

Na "Suma contra os Gentios", ele expõe a religião católica e identifica a verdade que ela contém. A relação entre ciência e fé, filosofia e teologia é discutida em sua obra-prima, a "Suma Teológica". Ele argumenta pela existência de Deus a partir dos efeitos observáveis no mundo, formulando cinco vias lógicas.

A filosofia de Tomás de Aquino também abrange a natureza humana, a relação entre corpo e alma, o conhecimento e o desejo. Ele afirma que o homem busca a felicidade na contemplação da Verdade e na obediência à vontade Divina.

Em conclusão, a filosofia e teologia de Santo Tomás de Aquino são um testemunho da busca humana pela sabedoria divina. Suas contribuições filosóficas não devem ser subestimadas, pois elas fornecem uma base sólida para a compreensão da relação entre fé e razão, a existência de Deus e a natureza do homem. Seu legado continua a influenciar e inspirar pensadores e fiéis em todo o mundo.

sábado, 28 de janeiro de 2017

O Legado Inabalável de Santo Tomás de Aquino na Teologia Católica


Em um mundo em constante mutação e avanço, a preservação de tradições e ensinamentos antigos muitas vezes enfrenta desafios. O caso de Santo Tomás de Aquino, muitas vezes referido como "Doutor Angélico", ilustra esse dilema. Embora alguns possam argumentar que suas contribuições teológicas foram relegadas ao esquecimento, a verdadeira posição da Igreja Católica em relação à teologia tomista é uma que ainda carrega uma importância inabalável.

A trajetória de Tomás de Aquino é notável. Ele desafiou a dicotomia entre fé e razão, estabelecendo um equilíbrio entre essas duas esferas aparentemente distintas. No entanto, com o passar dos anos, houve uma tendência a considerar suas ideias como antiquadas ou menos relevantes diante dos avanços modernos. Contudo, a verdade não poderia estar mais distante dessa perspectiva.

O Concílio Vaticano II desempenhou um papel crucial em reafirmar a relevância da teologia tomista. Através de suas declarações, a Igreja Católica reconheceu Tomás de Aquino como um guia fundamental para a teologia e a filosofia. O próprio Concílio, em sua Declaração Gravissimum Educationis, ressaltou a importância de compreender como fé e razão se harmonizam, seguindo os passos dos doutores da Igreja, especialmente Santo Tomás de Aquino.

No entanto, mesmo com o apoio do Concílio, houve momentos em que se percebeu uma diminuição da influência de Santo Tomás. Isso, entretanto, não corresponde à verdade. O Magistério subsequente ao Concílio, incluindo figuras proeminentes como Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, continuou a enfatizar a relevância da teologia de Santo Tomás.

Paulo VI, em sua Carta Apostólica Lumen Ecclesiae, e João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, destacaram a profundidade do pensamento de Aquino. O Código de Direito Canônico, no cânon 252, sublinha a importância de ensinar teologia dogmática baseada na palavra de Deus e na Tradição, tendo Santo Tomás como um guia mestre. Bento XVI, por sua vez, enfatizou a conexão entre a fé e o pensamento profundo de Aquino, proveniente de sua fé viva e piedade fervorosa.

Fica evidente que nem o Concílio Vaticano II nem o Magistério subsequente negligenciaram a teologia de Santo Tomás. Pelo contrário, a Igreja fez esforços consideráveis para promover seu modelo em todas as áreas da formação cristã. Qualquer percepção de obsolescência foi distorcida e ideológica, afastando-se dos princípios do Vaticano II.

É inegável que muitas falhas de compreensão em seminários, paróquias e até na mídia resultam da falta de conhecimento sobre Santo Tomás de Aquino. Sua abordagem ordenada é essencial para um diálogo sincero e uma vida espiritual plena. Sem essa ordem, a fé pode ser obscurecida, como observado por Joseph Ratzinger (Bento XVI).

Portanto, um retorno à rica herança de Santo Tomás de Aquino é vital. Suas doutrinas não apenas oferecem ensinamentos seguros, mas também uma piedade cristã que conduz ao divino. O "Doutor Angélico" nos convoca a orar, buscando uma vontade que busque Deus, uma sabedoria que o encontre e uma vida que o agrade. É através do entendimento de seus ensinamentos que alcançamos um encontro genuíno com a Verdade eterna, transcendendo as limitações do tempo e da mudança.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O voto de pobreza

 

Tomando em consideração o contexto em que vivemos, fazer um voto de pobreza certamente é uma escolha extremamente radical, reservada para os poucos dispostos a seguir esse caminho. Especialmente em uma época em que há grandes oportunidades de acumular riqueza e prosperar financeiramente, essa decisão pode parecer contracorrente. No entanto, é vital lembrar que todos os aspectos deste mundo são efêmeros, destinados a passar com o tempo. Nesse sentido, a busca desenfreada pela prosperidade financeira pode revelar-se uma jornada vazia e sem sentido.

A trajetória de Santo Tomás de Aquino nos oferece um exemplo inspirador nesse contexto. Sua renúncia aos bens materiais familiares e sua entrada na Ordem dos Pregadores refletem uma compreensão profunda da transitoriedade das riquezas terrenas. Ao seguir esse caminho, ele se assemelhou a Jesus, que viveu neste mundo com poucos pertences materiais, além de seus pais, que eram modestos em termos financeiros.

Vale destacar que Jesus, o carpinteiro, exercia uma profissão que, ainda hoje, muitas vezes não é devidamente valorizada em termos financeiros. No Brasil, por exemplo, o salário de um carpinteiro pode ser limitado, como no exemplo mencionado de R$1.500,00. No entanto, essa profissão é de uma importância fundamental, já que a construção de edifícios e estruturas começa com o trabalho do carpinteiro. Sua habilidade de criar andaimes e moldar a base é essencial para o sucesso da obra como um todo.

Na busca por uma vida plena e significativa, é crucial compreender que a abundância material por si só pode não satisfazer o espírito humano. A máxima de “ter muito sem Deus é não ter nada, mas ter pouco com Deus é ter tudo” ressoa profundamente. A verdadeira riqueza reside na conexão espiritual e na busca por valores mais profundos e transcendentais.

No que diz respeito ao voto de pobreza, é uma decisão que requer discernimento e uma compreensão clara de sua motivação. Enquanto para alguns pode ser uma escolha autêntica e inspirada, para outros, pode não ser o caminho adequado. Cada pessoa tem sua jornada espiritual única, e é importante respeitar e compreender as escolhas individuais nesse aspecto.

Em última análise, a reflexão sobre o voto de pobreza nos convida a ponderar sobre o verdadeiro significado da riqueza, da busca espiritual e do propósito em nossas vidas. É um tema que transcende as fronteiras do tempo e da cultura, estimulando-nos a examinar nossas prioridades e a encontrar um equilíbrio entre as demandas materiais e as aspirações do espírito. Pax,

Frank Matos

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Como evitar uma morte violenta

 

É interessante observar nas passagens que você compartilhou como a Bíblia reflete sobre temas como morte violenta, arrependimento, ação do diabo e a importância da fé. A orientação que os apóstolos São Pedro, São Paulo e outros deram sobre vigilância espiritual, bem como a ênfase na conversão e na busca pela salvação através da Igreja Católica Apostólica Romana, são princípios fundamentais da fé cristã.

A citação do Evangelho de São Lucas ressalta a necessidade do arrependimento verdadeiro e da conversão, indicando que as circunstâncias externas, incluindo mortes violentas, não determinam a retidão espiritual. A postura vigilante em relação à fé é enfatizada ao longo das Escrituras e muitas vezes está relacionada à resistência às tentações e ao ataque espiritual.

A passagem de São Tomás de Vilanova destaca a importância de estarmos preparados espiritualmente para a morte, pois esta é uma transição crucial em nossa jornada. A referência às Escrituras e às palavras dos santos, como São Tomás, nos lembra da rica tradição e sabedoria presentes na fé cristã.

Em relação à liberdade, a passagem de 1 Coríntios 6 aborda a importância de usar nossa liberdade de maneira responsável, honrando nosso corpo como um templo do Espírito Santo. Isso implica em evitar a fornicação e outros pecados que prejudicam nosso relacionamento com Deus. A liberdade não é vista como um fim em si mesma, mas como um dom a ser usado em conformidade com os ensinamentos divinos.

A oração Ánima Christi que você compartilhou é uma bela expressão de fé e desejo de proteção espiritual. Ela invoca a presença e o poder de Cristo em várias dimensões de nossa vida, desde a santificação até a defesa contra as forças malignas.

Seu compromisso com a oração, a conversão e a proteção espiritual é evidente em suas reflexões. A busca pela verdadeira liberdade através da conformidade com a vontade divina é uma jornada profundamente espiritual e enriquecedora. Que sua fé continue a inspirar e guiar sua vida e a daqueles que você ama. Pax et bonum!

terça-feira, 5 de julho de 2016

Beber vinho é pecado?

 

Parafraseando as palavras de Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, conforme a Bíblia de Jerusalém, podemos encontrar razões para considerar o uso do vinho como possivelmente ilícito:

1. Com efeito, é mencionado nas Escrituras que a Sabedoria é fundamental para a salvação, como se lê: “Deus ama somente aqueles que habitam com a Sabedoria.” (Sabedoria de Salomão 7, 28) e também “Os homens que agradaram a Deus desde o início foram salvos pela Sabedoria.” No entanto, o consumo excessivo de vinho pode prejudicar a aquisição da sabedoria, como afirmado em Eclesiastes: “Eu considerei seriamente entregar-me ao vinho, manter meu coração sob a influência da sabedoria e me entregar à insensatez, a fim de descobrir o que é bom para os seres humanos durante os dias de suas vidas.” (2, 3). Portanto, pode-se argumentar que o uso desmedido de vinho é absolutamente inapropriado.

2. Além disso, o Apóstolo São Paulo nos aconselha: “É bom abster-se de carne, vinho e de tudo o que possa levar teu irmão a tropeçar, cair ou enfraquecer.” (Romanos 14, 21). A abstenção do bem virtuoso pode levar ao escândalo entre os irmãos, o que é considerado uma ação maléfica. Assim, podemos questionar a licitude do consumo de vinho.

3. Ainda, Jerônimo afirma: “O uso do vinho junto com a carne começou após o dilúvio; no entanto, Cristo veio no fim dos tempos e restaurou as coisas ao estado original.” Isso sugere que na lei cristã o consumo de vinho pode ser considerado impróprio.

No entanto, contrapondo essas argumentações, a mesma Escritura nos revela instruções diferentes. Por exemplo, na carta de Paulo a Timóteo é dito: “Não continue bebendo apenas água; tome um pouco de vinho por causa de seu estômago e de suas frequentes enfermidades.” (1 Timóteo 5, 23). Também em Eclesiástico encontramos: “Alegria do coração e prazer da alma: essa é a função do vinho, bebido na medida certa e apropriada.” (31, 36).

Em resposta a essas considerações, Santo Tomás nos orienta que nenhuma comida ou bebida é ilícita em si mesma, como confirmado pelas palavras de Jesus: “Não é o que entra na boca que torna o homem impuro.” Portanto, o ato de beber vinho não é, em sua essência, ilícito. Contudo, pode tornar-se ilícito em certos contextos, como quando é consumido de maneira excessiva por alguém facilmente influenciável pelo álcool, ou por aqueles que fizeram votos de abstinência. Além disso, o modo de consumo e os efeitos em outros também devem ser considerados, evitando escândalos.

Dessa forma, podemos entender que as objeções apresentadas têm respostas variadas. A aquisição da sabedoria pode ocorrer de diferentes maneiras, a abstinência de vinho pode ser uma escolha em busca de uma sabedoria aprimorada, o conselho do Apóstolo visa evitar o escândalo mais do que proibir estritamente o consumo de vinho, e a proibição de Cristo é vista como uma restrição para aqueles que buscam a perfeição espiritual. (Suma Teológica, II-II, q. 149, a. 3).

domingo, 17 de novembro de 2013

A divindade escondida nos homens justos

Nas profundezas da filosofia tomista, percebemos que as almas de todos os homens são intrinsecamente imortais, mas, sobremaneira, as almas dos justos são investidas de uma imortalidade divina e transcendental.

Dentro da moldura da constituição pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), é afirmado com profundeza que há uma semente divina alojada no âmago do homem, clamando por ser nutrida e florescer.

Dentro das lendas que atravessam a tradição hindu, em tempos remotos, a humanidade toda habitava a esfera divina, mas através de um desvio lamentável, o homem cedeu às tentações terrenas, desgarrando-se do Divino. Nos anais destas narrativas, Brahma, o Deus supremo, determinou que a divindade fosse ocultada dos mortais, um mistério protegido com zelo nas entranhas do cosmos.

Um dentre os divinos observou: “Vamos ocultá-la nas profundezas da Terra.”

Brahma ponderou: “Não, pois o homem escavará até desenterrá-la.”

Outro sugeriu: “Então, a jogaremos nos recônditos oceânicos.”

Brahma retrucou: “Não, o homem aprenderá a mergulhar e a encontrá-la.”

Um terceiro divino propôs: “Que tal a ocultarmos no pico inacessível das montanhas?”

Brahma, então, respondeu: “Nem isso, pois o homem conquistará a montanha. Tenho o melhor plano: esconderemos essa centelha divina dentro do próprio coração humano, um lugar onde jamais pensará em buscar.”

A luz da Cristologia, que ilumina o cerne da teologia cristã, nos guia para a compreensão de que Jesus, como a essência divina encarnada, se fez homem, com o propósito de elevar a humanidade à sua própria divindade. É no reino celestial que apenas aqueles imbuídos de divindade poderão adentrar, e essa divindade é alcançada mediante a busca da santidade, uma jornada revelada pelas trilhas da Espiritualidade Católica, que encontra alicerces na Igreja edificada por Jesus, conforme atestado em São Mateus 16,18-19. Essa Igreja, por sua vez, é a coluna inquebrantável da verdade, como proclamado em I Timóteo 3,15.

Sendo assim, meus irmãos e irmãs, é incumbência nossa buscar diariamente aperfeiçoar nossa condição cristã, pois somente através desse aprimoramento seremos dignos de vislumbrar a face do Senhor, como nos exorta Hebreus 12,14. Desejo a cada um de vocês a mesma bênção que São Pedro, o primeiro Papa, rogou: “Que o amanhecer irrompa e que a Estrela da Manhã brilhe em nossos corações,” conforme II São Pedro 1,19. Que a paz do Divino esteja sempre convosco.

domingo, 1 de abril de 2012

Somente a Verdade liberta

A única Igreja Católica Apostólica Romana é vista como a depositária da verdade completa, enquanto outras religiões possuem fragmentos dessa verdade, conforme expresso por São Paulo: “… Igreja do Deus vivo: coluna e sustentáculo da verdade” (I Timóteo 3,15). A Igreja fundada por Jesus (São Mateus 16,18-19) é considerada a única que detém a verdade em sua totalidade.

Aqueles que ainda não encontraram essa verdade são considerados ligados ao pecado, pois a morte de Jesus na cruz concedeu a liberdade para superar o pecado, como é afirmado: “agora já não o seja” (mediante o sacramento da penitência).

O episódio dos ladrões crucificados ao lado de Jesus é frequentemente citado para ilustrar que a salvação é alcançada pela crença em Jesus. Enquanto um dos ladrões creu e foi salvo, o outro não creu e foi condenado. A crença em Jesus, o Verbo encarnado de Deus, é vista como a chave para a salvação, independentemente dos pecados cometidos, já que Jesus reconhece a natureza pecaminosa de todos. Jesus disse: 'Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanecer em mim e eu nele produz muito fruto; porque, SEM MIM, NADA PODEIS FAZER' (São João 15,5). A transformação em uma vida santa é vista como possível apenas com a ação de Jesus através da Eucaristia.

O convite é feito para buscar a VERDADE que é Jesus, o Verbo encarnado, visto que sem Ele não se pode realizar nada. São Paulo expressa essa relação de entrega à fé: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gálatas 2, 20).

Hoje, há um convite para buscar a verdade em Jesus, pois é considerado que, sem Ele, todas as empreitadas carecem de significado. Amém.

A 'Massa Damnata' de Santo Agostinho: Pecado Original, Graça e as Penas do Inferno

Santo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), um dos mais influentes Doutores da Igreja, moldou profundamente a compreensão ocidental sobre pec...