quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O Espírito Tomista e a Busca pela Verdade

O Espírito Tomista e a Busca pela Verdade

O legado de Santo Tomás de Aquino, frequentemente reverenciado como o “Doutor Angélico”, continua a inspirar e moldar o pensamento de muitos que buscam uma compreensão mais profunda da fé cristã e da relação entre a razão e a fé. Fr. Santiago Ramírez, O. P., um mestre da Ordem Dominicana, desempenha um papel fundamental ao ostentar o título de Mestre da Ordem e ao incitar o rejuvenescimento do tomismo neste centenário da morte de Santo Tomás. 

Este centenário não deve ser apenas uma comemoração vazia, mas uma oportunidade para refletir sobre o verdadeiro espírito de Santo Tomás e seu significado contínuo para os católicos, especialmente na Espanha. Como destacou Leão XIII, os espanhóis são aqueles que mantêm viva a memória do Doutor Angélico e seguem sua filosofia e método de pensamento tomista ao longo do tempo.

Santo Tomás de Aquino não era apenas um intelectualista seco, mas também um homem de profunda espiritualidade. Sua oração estava intrinsecamente ligada ao seu estudo, e sua sabedoria estava enraizada em sua santidade. Ele personificou a união perfeita entre razão e fé, Filosofia e Teologia, e seu espírito equilibrado reflete essa harmonia.

A essência de ser um verdadeiro tomista envolve adotar o espírito de Santo Tomás, compreendendo e vivendo sua filosofia e teologia de maneira profunda e abrangente. Um verdadeiro tomista não apenas recorre às obras de Santo Tomás esporadicamente, mas busca uma compreensão constante e aprofundada de suas ideias e princípios.

O caminho do tomismo também requer uma familiaridade com as Escrituras, os Padres da Igreja e a tradição teológica. Dominar a Filosofia antiga e moderna é crucial para impugnar erros e delinear os limites entre fé e razão. O tomista verdadeiro trabalha para não apenas entender Santo Tomás, mas também expandir seu pensamento através de comentários e análises que ressoem com os desafios contemporâneos.

Entretanto, ser um tomista verdadeiro não significa apenas imitar cegamente, mas sim digerir, compreender e adaptar as ideias de Santo Tomás à luz das necessidades e questionamentos atuais. Assim como ele construiu sua síntese filosófica e teológica com base nas contribuições da tradição, os tomistas de hoje devem também incorporar novas perspectivas, desde que estejam em harmonia com os princípios fundamentais da fé.

A busca pelo conhecimento tomista exige um equilíbrio entre humildade e rigor intelectual. Os tomistas não devem se contentar com superficialidades, mas também não devem se afastar do estudo minucioso por medo de desvios. O processo de ser um tomista genuíno envolve a limpeza das ideias, separando o essencial do superficial e adaptando o pensamento de Santo Tomás de maneira responsável às realidades do presente.

Enquanto o ideal de se tornar um tomista perfeito pode parecer inatingível, a busca pela profundidade na compreensão e aplicação do pensamento de Santo Tomás é uma jornada valiosa. Através do estudo dedicado, da reflexão cuidadosa e da aplicação responsável, os tomistas modernos podem contribuir para o contínuo crescimento e desenvolvimento do tomismo, mantendo vivo o espírito do Doutor Angélico em nossa busca pela verdade e sabedoria.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

O Bard, a nova IA do Google


 O Bard, a nova IA do Google

O Bard é uma nova ferramenta de inteligência artificial (IA) do Google, lançada em março de 2023. Ele é baseado no modelo de linguagem PaLM 2, um dos maiores e mais poderosos modelos de linguagem já criados.

O Bard é capaz de realizar uma variedade de tarefas, incluindo:

  • Gerar texto, traduzir idiomas, escrever diferentes tipos de conteúdo criativo e responder às suas perguntas de forma informativa.
  • Colaborar com você em projetos, ajudando-o a gerar ideias, organizar informações e concluir tarefas.
  • Aprender com você e melhorar suas habilidades ao longo do tempo.

O Bard ainda está em desenvolvimento, mas já aprendeu a realizar muitos tipos de tarefas. Ele pode ser usado para uma variedade de propósitos, incluindo:

  • Educação: O Bard pode ser usado para ajudar os alunos a aprender novos conceitos e completar tarefas de forma independente.
  • Negócios: O Bard pode ser usado para ajudar as empresas a gerar conteúdo criativo, traduzir idiomas e automatizar tarefas.
  • Criatividade: O Bard pode ser usado para ajudar as pessoas a gerar ideias, escrever histórias e criar outras formas de arte.

Para usar o Bard, você pode acessar o site do Google Bard ou usar o aplicativo Google Chat. O Bard está disponível em português e em outras 39 línguas.

Aqui estão alguns exemplos do que o Bard pode fazer:

  • Gerar texto: O Bard pode gerar texto em uma variedade de estilos, incluindo ficção, não-ficção, poesia e código.
  • Traduzir idiomas: O Bard pode traduzir entre mais de 100 idiomas.
  • Escrever diferentes tipos de conteúdo criativo: O Bard pode escrever diferentes tipos de conteúdo criativo, como poemas, histórias, roteiros, peças musicais, e-mails, cartas, etc.
  • Responder às suas perguntas de forma informativa: O Bard pode responder às suas perguntas de forma informativa, mesmo que sejam abertas, desafiadoras ou estranhas.
  • Colaborar com você em projetos: O Bard pode colaborar com você em projetos, ajudando-o a gerar ideias, organizar informações e concluir tarefas.

O Bard é uma ferramenta poderosa que tem o potencial de transformar a forma como interagimos com a tecnologia. À medida que o Bard continua a aprender e melhorar, ele se tornará ainda mais útil e versátil.

Tomismo e Inteligência Artificial: Explorando a Interseção entre a Filosofia Cristã e a Tecnologia Moderna

Na busca incessante pelo entendimento do mundo que nos cerca, a filosofia e a tecnologia muitas vezes caminham lado a lado, e um exemplo notável dessa interseção é o diálogo entre o tomismo, uma filosofia cristã profundamente enraizada, e a inteligência artificial (IA), uma manifestação moderna da capacidade humana de criar. Neste artigo, mergulharemos na essência do tomismo e examinaremos como seus princípios podem se relacionar com a IA, enquanto exploramos também as implicações éticas e filosóficas que emergem desse encontro.

I. Tomismo: Uma Breve Visão Geral

O tomismo é uma filosofia que se baseia nas obras do teólogo e filósofo cristão medieval, Tomás de Aquino. Ele buscou harmonizar a fé cristã com a razão filosófica, argumentando que a razão e a fé não eram incompatíveis, mas sim complementares. A filosofia tomista valoriza o uso da razão para compreender a natureza, Deus e a moralidade.

II. Inteligência Artificial: Uma Janela para o Futuro

A Inteligência Artificial é um campo da ciência da computação que busca criar máquinas capazes de realizar tarefas que, normalmente, requerem inteligência humana. Desde algoritmos de aprendizado de máquina até redes neurais profundas, a IA tem conquistado avanços significativos nas últimas décadas, levando-nos a questionar os limites da criação humana.

III. Pontos de Convergência

A primeira conexão notável entre o tomismo e a IA reside na capacidade humana de criar. Assim como Deus é considerado o criador do universo na perspectiva tomista, os seres humanos, à semelhança de Deus, têm a capacidade de criar sistemas complexos de IA. No entanto, a filosofia tomista nos lembra da importância de usar essa criatividade em harmonia com princípios morais e éticos.

Além disso, o tomismo enfatiza a importância da alma e da natureza humana. A IA levanta questões intrigantes sobre a natureza da consciência, da mente e da alma. Os tomistas argumentam que a alma humana é a fonte da razão e da moralidade, enquanto a IA desafia essa premissa ao simular inteligência sem possuir uma alma. Isso nos leva a ponderar se a IA pode, de fato, alcançar uma compreensão moral semelhante à humana.

IV. Implicações Éticas e Filosóficas

A interação entre o tomismo e a IA também suscita questões éticas profundas. A criação de máquinas inteligentes levanta preocupações sobre o livre-arbítrio, a responsabilidade e o controle humano. Os tomistas argumentariam que, mesmo em um mundo cada vez mais impregnado de tecnologia, os seres humanos não devem se afastar de sua capacidade de tomar decisões conscientes e morais.

Além disso, a IA pode amplificar desigualdades sociais, levantando preocupações sobre a dignidade humana e a justiça social. Aqui, o tomismo novamente entra em jogo, enfatizando a importância de tratar todos os seres humanos com dignidade e respeito, independentemente de suas habilidades ou origens.

Conclusão

A interseção entre o tomismo e a Inteligência Artificial oferece uma rica oportunidade de reflexão sobre o papel da tecnologia na sociedade e na moralidade. A filosofia tomista nos lembra que, enquanto buscamos desvendar os mistérios do universo e criar maravilhas tecnológicas, devemos fazê-lo com uma base sólida de princípios morais e éticos. A IA nos desafia a questionar o que significa ser humano e como nossa criatividade pode moldar o futuro. Ao fundir esses dois domínios, somos lembrados da complexidade e profundidade tanto da filosofia cristã quanto da tecnologia moderna.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

A vingança pertence ao Eterno

 

O indivíduo sábio demonstra a capacidade de reconhecer aqueles que o prejudicaram, mas não busca vingança. Em vez disso, ele confia a situação à Theosis, entregando-a nas mãos do Dominus Deus Sabaoth. Isso ocorre porque a justiça divina preconiza que o correto é retribuir aos outros de acordo com os preceitos divinos.

Dessa forma, o sábio observa como o ímpio, mesmo sem estar ciente de que o sábio tem conhecimento de sua transgressão, enfrenta as consequências de seus atos, uma vez que a prerrogativa de vingança reside com Iahweh.

É importante ressaltar que o verdadeiro seguidor cristão opta sempre por responder ao mal com o bem, pois esta é a vontade do Eterno.

Que a misericórdia divina esteja conosco! 🙏🏻

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Ano Novo do Calendário Católico!

 

Que alegria celebrar a virada do ano pelo Calendário Gregoriano, uma dádiva do Papa Gregório XIII em 1582, através da bula Inter Gravíssimas! Peço desculpas pela empolgação, mas é impossível não se sentir envolvido pelo catolicismo. 

E amanhã, um feriado que devemos agradecer à Igreja, a instituição fundada por Cristo conforme São Mateus 16, 18-19. Não há como escapar, a presença da Igreja Católica é notável em todas as direções. Até mesmo o nome oficial desta cidade é Santa Maria de Belém do Grão-Pará, um testemunho da fé arraigada. Aceitar essa realidade é uma escolha sensata e enriquecedora.

E falando sobre o Te Deum, quem entoar hoje essa bela prece no último dia do calendário católico, estará agraciado com indulgências. Uma oportunidade espiritual que não podemos deixar passar.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A Comunhão Espiritual

 

A Profunda Significância da Comunhão Espiritual na Vida Cristã

A comunhão espiritual, um conceito profundamente enraizado na teologia tomista e na fé católica apostólica romana, tem sido um pilar essencial na vida devocional de muitos fiéis. Santo Tomás de Aquino, um dos pilares da filosofia e teologia, definiu a comunhão espiritual como um desejo ardente de receber Jesus Cristo sacramentalmente. Esta prática, elogiada pelo sagrado Concílio de Trento, assume uma importância inegável na busca pela proximidade com Cristo.

O relato de experiências místicas, como o episódio de sóror Paula Maresca, fundadora do convento de Santa Catarina de Senna em Nápoles, reflete a manifestação divina em relação à comunhão espiritual. Jesus Cristo apresentou a ela dois vasos preciosos, um de ouro contendo suas comunhões sacramentais e outro de prata abrigando as espirituais. Isso ilustra a apreciação divina por essa forma de comunhão, onde o desejo sincero de se unir a Ele é considerado de igual valor.

A prática da comunhão espiritual também é atestada na história de um homem virtuoso que ansiava pela comunhão frequente, mesmo em um contexto onde não era comum. Para evitar destacar-se, ele realizava a comunhão espiritual, seguindo um ritual de preparação e abrindo a boca como se recebesse o próprio Jesus Cristo. Essa devoção profunda era recompensada pela sensação de uma sagrada partícula repousando sobre sua língua e uma doçura extrema na alma. Esse exemplo revela como o Senhor honra o fervoroso desejo de Seus servos.

O Beato Pedro Fabro, da Companhia de Jesus, ressaltou a sinergia entre as comunhões espirituais e sacramentais. Ele enfatizou que a comunhão espiritual aprimora a vivência das comunhões sacramentais, evidenciando a interconexão entre essas práticas. Testemunhos de santos como a Beata Angela da Cruz, que praticava cem comunhões espirituais durante o dia e outras cem durante a noite, demonstram como essa devoção intensifica a conexão pessoal com Cristo.

Santo Agostinho sabiamente indicou que uma alma que ama exclusivamente a Jesus Cristo é uma alma que não pode ser recusada por Ele. A comunhão espiritual, livre de restrições como jejum e ministério sacerdotal, oferece uma bela maneira de se unir a Cristo em momentos íntimos. É uma prática flexível, adequada para incorporar à rotina diária, permitindo que os fiéis se aproximem do Senhor com frequência.

A oração e a adoração ao Santíssimo Sacramento são momentos propícios para praticar a comunhão espiritual. Quando o sacerdote comunga durante a missa, um ato de fé profunda, amor sincero, arrependimento pelos pecados e um desejo de união com Cristo podem ser formulados. Essa prática, como exemplificado por venerável Joana da Cruz, nutre a alma e estabelece uma ligação espiritual profunda.

Em última análise, a comunhão espiritual é uma expressão da busca contínua por uma conexão íntima com Jesus Cristo. Baseada em uma profunda teologia tomista e enraizada na fé católica apostólica romana, ela permite que os fiéis experimentem a presença divina em suas vidas diárias. Através desse ato de amor e desejo fervoroso, a alma se aproxima do Divino, encontrando conforto na comunhão espiritual mesmo nos momentos mais simples e silenciosos da vida.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

À procura da vida interior

 

A contemplação direta de Deus transcende os limites inerentes às capacidades naturais de toda inteligência criada, seja ela celestial ou humana. Embora uma mente criada possa, por meio de sua faculdade inata, alcançar o conhecimento de Deus ao perceber o reflexo de Suas perfeições na harmonia do mundo criado, ela não pode, por sua própria natureza, contemplar a Divindade em Sua plenitude, tal como Deus Se percebe.

Tanto os anjos como as almas humanas só são habilitados a adquirir uma compreensão sobrenatural de Deus e nutrir um amor transcendental por Ele quando são agraciados com a infusão divina da graça habitual, um enxerto que resulta na participação da natureza divina e na íntima união com a vida de Deus. É somente através dessa graça, concedida como um presente gratuito e depositada na essência de nossa alma, que esta se torna fundamentalmente apta a exercer operações essencialmente divinas. Isso implica a habilidade de contemplar Deus diretamente em Sua realidade mais profunda, assim como Ele Se contempla, e de amá-Lo da mesma maneira que Ele ama a Si mesmo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

É permitido a um homem casado servir no altar?

 

A liturgia da Santa Missa é um momento de profundo significado para a fé católica, e o serviço do altar desempenha um papel de elevada dignidade nesse contexto. A Igreja reconhece essa importância ao consagrar as diversas funções do servidor do altar através das ordens menores. Cada função desempenhada pelo servidor possui um simbolismo profundo que reflete a relação do servidor com Deus e a congregação.

O Hostiário, por exemplo, é responsável por soar os sinos e segurar os livros. Seu papel transcende as tarefas externas, representando um chamado à oração, guiando os fiéis com seu bom exemplo de vida. O Exorcista, por sua vez, tem a responsabilidade de despejar a água no Lavabo, simbolizando a purificação da alma. Sua função é intrinsecamente ligada à pureza de espírito, um modelo a ser seguido pelos outros fiéis. O Acólito, com a tarefa de carregar as velas e trazer água e vinho ao altar, participa diretamente na preparação do Santo Sacrifício da Missa. Ele é um farol de bondade, justiça e verdade, trazendo luz para os fiéis e a Igreja como um todo.

A adequação dessas funções é profundamente relacionada com a sacralidade da Missa, e, portanto, requer que os servidores do altar sejam homens consagrados a Deus. São Tomás de Aquino argumenta que o servidor assume o papel de todo o povo católico, sendo parte essencial das orações do Padre. Essa função é, de fato, pública, e é por isso que a presença de um servidor do altar é requerida, conforme expresso pelo Papa Pio XII em sua encíclica de 1947 sobre a Sagrada Liturgia.

A importância desse serviço é tal que a Igreja estipula que um servidor do altar deve estar presente durante a Missa. Embora um clérigo tonsurado seja ideal, a realidade muitas vezes é diferente, permitindo que servidores não-clérigos também desempenhem essa função. Essa prática é corroborada pelo Papa Pio XII, e, de fato, é reconhecida na sessão do Missal que lida com possíveis defeitos na celebração.

A questão sobre o envolvimento de homens casados nesse serviço é um tópico significativo. Enquanto garotos frequentemente atuam como servidores do altar, homens casados também podem ter um papel importante. O critério-chave é que esse homem seja casto de acordo com seu estado de vida, demonstrando virtude e compromisso com sua consagração a Deus. Sua presença como servidor é uma extensão de sua liderança espiritual perante os fiéis. A atenção ao detalhe e à conduta correta durante as cerimônias é essencial, independente do estado marital.

Em última análise, o serviço do altar na Santa Missa é um reflexo do compromisso com a fé e com Deus. Cada função desempenhada pelo servidor tem um significado profundo, e tanto clérigos como não-clérigos podem contribuir para a riqueza espiritual da celebração. O foco na sacralidade, pureza de espírito e liderança espiritual guia a atitude e a devoção do servidor do altar, fortalecendo a ligação entre a liturgia e a vida cotidiana dos fiéis.

A Percepção Direta de Deus e a Jornada da Vida Interior

 

A Percepção Direta de Deus e a Jornada da Vida Interior

No cerne da fé e da busca espiritual, reside o mistério da percepção direta de Deus, uma visão que transcende as capacidades naturais de toda inteligência criada, seja angelical ou humana. Enquanto as inteligências criadas são capazes, por sua própria natureza, de perceber Deus através do reflexo de Suas perfeições na ordem criada, a visão direta de Deus em Sua essência está além de sua capacidade intrínseca.

Anjo e alma humana atingem o conhecimento sobrenatural de Deus e um amor divino sobrenatural somente quando são agraciados com o enxerto divino - a graça habitual ou santificante - que os torna capazes de operações divinas. Essa graça é a participação da natureza divina e vida íntima de Deus, conferindo a capacidade de ver Deus diretamente como Ele Se vê e amá-Lo como Ele Se ama.

A deificação da inteligência e da vontade exige a deificação da própria alma, uma transformação profunda da essência da alma. Essa graça, quando plenamente consumada e inamissível, é conhecida como glória. Através da glória, a inteligência dos bem-aventurados no céu é iluminada por uma luz sobrenatural que lhes permite ver Deus. A vontade é permeada pela caridade infusa, que os leva a amá-Lo de maneira inquebrantável.

Jesus frequentemente proclamava: "Aquele que crê em mim tem a vida eterna", indicando que a vida da graça é um começo da vida eterna. É uma realidade em germe, uma promessa de vida divina que se desenvolverá plenamente, assim como uma semente de carvalho contém a vida do carvalho maduro.

A vida da graça é a mesma em sua essência tanto para os justos na Terra quanto para os santos no céu. No entanto, há distinções importantes: na Terra, o conhecimento de Deus é marcado pela fé, enquanto no céu é caracterizado pela visão direta; também, a posse da graça é insegura na Terra, mas inamissível no céu.

Uma consequência significativa desse entendimento é que a contemplação infusa dos mistérios da fé e a união com Deus não são extraordinárias, mas parte da via normal da santidade. A graça santificante e a caridade são superiores às graças extraordinárias, como profecias ou dons das línguas, pois unem a alma a Deus de maneira íntima e duradoura.

A vida interior, que emerge da vida da graça, requer abnegação e oração. Ela é uma jornada sobrenatural que leva à união com Deus, com etapas de purificação, iluminação e união. Essa jornada culmina em uma conversa íntima com Deus, em que o homem interior se afasta do egoísmo e cresce em amor e proximidade a Deus.

No âmago dessa conversa íntima, a alma percebe que seu verdadeiro fim não está nela mesma, mas em Deus. Essa manifestação progressiva de Deus à alma é um processo em que o homem interior cresce em conhecimento e desejo de Deus, tornando-se cada vez mais uma criança em relação a Ele.

Portanto, a vida interior é a jornada da alma em direção a uma conversa mais profunda com Deus, uma busca por união e uma transformação contínua. Ela não é apenas uma experiência extraordinária, mas parte integrante da vida de santidade, acessível a todos os que buscam a Deus com sinceridade e abertura de coração. Que possamos seguir essa jornada em busca da plenitude da vida divina e da união com o Criador.

A 'Massa Damnata' de Santo Agostinho: Pecado Original, Graça e as Penas do Inferno

Santo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), um dos mais influentes Doutores da Igreja, moldou profundamente a compreensão ocidental sobre pec...