sábado, 21 de março de 2020

A Missão na Vinha do Senhor

 

Em um relato que traz profundas lições, encontramos nas palavras de Cristo um convite à ação, à recompensa justa e à jornada espiritual. No Evangelho de Mateus (20, 3), lemos: “Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. Disse-lhes Ele: Ide também vós para vinha e vos darei o justo salário.”

Dentro dessas palavras, podemos discernir quatro aspectos de significado:

1. A Generosidade do Salvador: A atitude de Cristo em sair é um reflexo da infinita bondade que visa salvar Seu povo. A comparação de Cristo saindo para conduzir os homens à “vinha da justiça” é uma demonstração inigualável de Sua misericórdia. A primeira vez que Ele “sai” é como o semeador, espalhando Suas criaturas no início do mundo. Ele também “sai” para iluminar o mundo com Sua justiça, durante Sua vida ativa. Em Sua Paixão, Ele sai para libertar Seus filhos do domínio do mal. Ele age como o pai de família, cuidando de seus filhos e, por fim, como juiz, para conduzir o julgamento justo.

2. A Futilidade da Ociosidade: Nada é mais insensato do que desperdiçar a vida terrena na ociosidade, especialmente quando é nosso dever trabalhar para garantir a vida eterna. A imagem dos homens ociosos na praça representa a nossa vida cotidiana, cheia de afazeres e oportunidades. Essa vida é comparada à praça, onde se negociam bens e conhecimentos, bem como as perspectivas da graça divina. Aqueles que negligenciam suas vidas, seja por pecado ou inação, estão se privando do verdadeiro propósito da existência.

3. A Chamada para a Jornada Espiritual: O convite de Cristo para “ide também vós para vinha” é um apelo à nossa responsabilidade de trabalhar na vinha da bem-aventurança. Essa vinha é uma metáfora da vida virtuosa, onde devemos plantar boas ações, erradicar os vícios, podar os excessos, afastar influências negativas e proteger nossa alma de ameaças externas. Essa jornada é um esforço constante para crescer em virtude e se tornar mais semelhante a Deus.

4. O Valor do Trabalho Espiritual: O “justo salário” que Cristo promete aos trabalhadores na vinha é simbolizado pelo denário, que é mais valioso do que mil ciclos de prata. Isso nos recorda do valor incomensurável das recompensas celestiais. O denário representa as alegrias eternas, que superam qualquer riqueza terrena. O texto bíblico deixa claro que nossos esforços e trabalhos espirituais não são em vão, mas resultam em uma recompensa que transcende nossa compreensão.

Nessa narrativa, encontramos lições de generosidade divina, a importância de não desperdiçar o tempo e as oportunidades que Deus nos concede, o chamado para uma vida de virtude e o valor inestimável das recompensas celestiais. Que essas palavras ressoem em nossos corações, inspirando-nos a empreender a jornada espiritual na vinha do Senhor. Como nos lembra São Tomás de Aquino em seus sermões, essa parábola continua a nos guiar em nossa busca pela verdade e pela justiça.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Não vos iludais; de Deus não se zomba!

 

É notável a observação sobre como as escolhas do ímpio podem levá-lo à cegueira espiritual, fazendo-o tropeçar em armadilhas que resultam em quedas profundas e duradouras. O mundo, muitas vezes apreciado por aqueles que o ignoram, pode iludir com suas promessas de prosperidade material, ocultando as verdadeiras consequências do pecado.

De fato, as manchas indeléveis deixadas na alma pelo pecado são o verdadeiro prejuízo. É intrigante considerar como escolhas que parecem benéficas, mas que contrariam a vontade divina, podem levar a consequências tão danosas. A analogia com o iceberg é profunda; a arrogância humana pode ser comparada à confiança excessiva no navio Titanic, resultando em uma colisão dolorosa com a realidade.

Thomas Andrews e Alexander Carlisle, exemplos de confiança desmedida, demonstram a importância de não menosprezar a sabedoria divina. A reflexão sobre o livre-arbítrio humano é crucial: Deus permite a liberdade de escolha, mas as ações têm consequências. A ideia de que o Criador não deseja a condenação de ninguém, mas busca a reconciliação e a redenção, é um lembrete poderoso de Sua misericórdia.

A noção de que a escolha errada pode acarretar consequências na vida presente, trazendo consigo a oportunidade de purificação e perdão, é uma visão intrigante. O temor respeitoso por Deus é evidente, e as referências bíblicas enfatizam a importância da escolha certa para evitar a condenação eterna.

A chamada à razão e à fé verdadeira ao fazer escolhas é crucial. O exemplo de não zombar de Deus e a compreensão de que o Criador ama as brincadeiras inocentes reforçam a importância do respeito por Sua vontade. A advertência sobre colher o que se semeia é um lembrete oportuno de que a justiça divina é inevitável.

O contraste entre o deus materialista “Mamon” e a busca pela riqueza espiritual é marcante. Afinal, o que adianta ganhar o mundo material e perder a alma? A lembrança das palavras de Jesus sobre o valor da vida eterna em comparação com os tesouros terrenos é um apelo à reflexão profunda.

A parábola do Rico Insensato destaca a inutilidade de acumular bens materiais sem considerar a eternidade. O pedido de uma escolha consciente e a exortação a escolher a vida ressoam fortemente, lembrando-nos da responsabilidade individual.

Encerro esta reflexão em oração, unindo-me a você:

Alma de Cristo, santificai-me.

Corpo de Cristo, salvai-me.

Sangue de Cristo, inebriai-me.

Água do lado de Cristo, lavai-me.

Paixão de Cristo, confortai-me.

Ó bom Jesus, ouvi-me.

Dentro de Vossas chagas, escondei-me.

Não permitais que me separe de Vós.

Do espírito maligno, defendei-me.

Na hora da minha morte, chamai-me.

E mandai-me ir para Vós, para que Vos louve com os vossos Santos, por todos os séculos dos séculos. Amém.

Que a paz de Cristo esteja sempre conosco, guiando nossas escolhas e nossos corações.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Santo Tomás de Aquino — A Oração para os Estudos e a Busca pela Sabedoria Divina

 


A busca pela sabedoria é uma jornada que transcende os limites do intelecto humano. Nesse contexto, Santo Tomás de Aquino, uma das figuras mais proeminentes da teologia e filosofia, oferece uma oração poderosa e profunda para aqueles que anseiam pelo conhecimento iluminado pela luz divina. A “Oração para os Estudos” de Santo Tomás é uma expressão eloquente do desejo de alcançar uma compreensão mais profunda, uma mente aguçada e uma língua erudita.

Na oração, Tomás de Aquino invoca o “Infalível Criador”, reconhecendo a fonte suprema da sabedoria e a ordem sublime que permeia o universo. Ele destaca a ordem celestial das hierarquias angelicais, que exemplificam a harmonia divina e a disposição ordenada das coisas criadas. Com essa imagem, ele nos lembra da importância da estrutura e da harmonia no processo de aquisição do conhecimento.

O pecado e a ignorância são identificados como “duplas trevas” que obscurecem a mente humana. Aqui, Santo Tomás reconhece a queda da humanidade e a separação de Deus, que resulta na limitação do entendimento humano. No entanto, ele busca a intervenção divina para dissipar essas trevas e permitir que a luz da verdade divina brilhe sobre a mente humana.

A erudição é comparada à fecundidade da língua das crianças. Isso ressalta a ideia de que, assim como as crianças aprendem a se expressar e a se comunicar, aqueles que buscam o conhecimento devem ser nutridos e guiados pelo próprio Criador. A bênção divina é vista como essencial para capacitar a linguagem humana, tornando-a uma ferramenta poderosa na busca pelo entendimento.

A oração prossegue com uma série de pedidos específicos. Acuracidade para entender, capacidade de reter, sutileza de relevar, facilidade de aprender, graça abundante de falar e escrever — todos esses aspectos são vistos como dons divinos que permitem que o indivíduo se torne um receptor receptivo e expressivo do conhecimento. Aqui, Santo Tomás reconhece a complexidade da aprendizagem e a variedade de habilidades necessárias para absorver e transmitir sabedoria.

A oração conclui com uma invocação a Deus como “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”, ressaltando a dualidade divina e humana de Cristo. Isso não apenas reforça a crença fundamental de Tomás na natureza divina de Cristo, mas também expressa a confiança na intercessão de um Salvador que entende plenamente as lutas e aspirações humanas.

Santo Tomás de Aquino, com sua oração, nos lembra que a busca pela sabedoria é uma jornada espiritual, intelectual e moral. A oração transcende as limitações humanas e busca a iluminação divina para guiar o processo de aprendizado. A harmonia, a luz e a graça são elementos centrais que permeiam essa oração, refletindo a profunda crença de Tomás na integração da fé e da razão.

Portanto, essa oração continua a inspirar e ressoar nos corações daqueles que desejam se aprofundar no conhecimento e na verdade. Ela nos lembra que, ao buscar a sabedoria, estamos também buscando uma conexão mais profunda com o Criador e a realização do nosso propósito como seres humanos dotados de racionalidade e espiritualidade. Que a “Oração para os Estudos” de Santo Tomás de Aquino continue a iluminar os caminhos daqueles que buscam a verdade e a sabedoria divina. Amém.

sábado, 22 de abril de 2017

A Profunda Sabedoria da Amizade segundo São Tomás de Aquino

 

A amizade é um tesouro raro e profundo, uma ligação que transcende o tempo e a distância, enraizada no compartilhamento de valores e objetivos. O filósofo e teólogo São Tomás de Aquino capturou a essência dessa relação em sua máxima: “Idem velle, idem nolle” — querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas. Nesta reflexão, exploraremos a riqueza dessa definição de amizade, destacando como ela se alinha com os princípios tomistas e a busca pela verdade.

São Tomás de Aquino, um dos maiores expoentes da filosofia e teologia cristã, entendia que a verdadeira amizade é forjada nas chamas da afinidade. Amigos genuínos não apenas compartilham alegrias e sucessos, mas também abraçam as dificuldades e desafios comuns. E o cerne dessa ligação reside na harmonia de vontades e rejeições mútuas. Quem compartilha valores, sonhos e ideais semelhantes encontra um terreno fértil para o florescimento da amizade duradoura.

É interessante notar que essa definição não se limita apenas ao âmbito humano. A própria relação entre Deus e o homem pode ser interpretada através desse prisma. Ao desejar a mesma verdade e rejeitar as mesmas falsidades, a alma humana encontra proximidade com o Divino. A busca pela verdade e pela virtude, pilares da filosofia tomista, cria uma base sólida para uma amizade profunda com Deus e, consequentemente, com os semelhantes que compartilham desses anseios.

O pensamento de São Tomás de Aquino também ecoa nas palavras de Olavo de Carvalho, que enfatiza a importância de escolher cuidadosamente as amizades. Ele nos lembra que não devemos nos contentar com relacionamentos mediocrizantes, que apenas nos rebaixam. Ao invés disso, devemos procurar companheiros que nos inspirem a crescer em nossa busca por sabedoria e verdade. Aqueles que não compartilham nossos ideais não são necessariamente inimigos, mas podem ser vistos como oportunidades para exercitar a caridade e a paciência, buscando orientá-los em direção à luz da compreensão.

No âmbito do cristianismo, a noção de amizade também se entrelaça com o conceito de caridade. Amar o próximo como a si mesmo é uma expressão máxima dessa ligação entre pessoas que compartilham o mesmo querer e o mesmo não querer. A caridade nos impele a enxergar além das diferenças superficiais e a buscar a união de almas que desejam o bem comum.

Em conclusão, a definição de amizade segundo São Tomás de Aquino ressoa como um farol na jornada da vida. Ela nos orienta a escolher nossas amizades com sabedoria, buscando aqueles que compartilham nossa busca por valores e verdades profundas. Essa concepção transcende a mera camaradagem, adentrando os reinos da espiritualidade e do divino. Ao seguir esse princípio, encontramos um caminho iluminado para cultivar relações que nos elevam, nos enriquecem e nos conduzem em direção à verdadeira plenitude.

Que a paz de Cristo guie cada um de nós nessa jornada de amizade e busca pela verdade.

sábado, 1 de abril de 2017

A Filosofia e Teologia de Santo Tomás de Aquino: Uma Jornada pela Sabedoria Divina

 

Santo Tomás de Aquino, conhecido como o Doutor Angélico, Doutor Comum e Doutor Universal, é indubitavelmente um dos maiores teólogos da Igreja Católica Apostólica Romana. Sua sabedoria filosófica muitas vezes é ofuscada por sua excelência teológica, mas suas contribuições à filosofia não devem ser subestimadas. As XXIV Teses Tomistas revelam sua autêntica filosofia e marcam o nascimento da “filosofia aristotélico-tomista”. Tomás de Aquino, embora baseado nas trilhas de Aristóteles, reformulou com discernimento os ensinamentos do filósofo grego, arquitetando sua própria filosofia.

A base da filosofia tomista reside na realidade das coisas, não em meras abstrações, e constrói um sistema coordenado de teses a partir da percepção sensível do mundo. O Papa Leão XIII, em sua encíclica Aeterni Patris, ressalta que Tomás de Aquino encontrou conclusões filosóficas nas razões fundamentais das coisas, que abrangem vastas verdades e foram desenvolvidas ao longo do tempo por mestres subsequentes.

A filosofia tomista se desenvolve a partir da percepção das coisas para alcançar as explicações últimas. Tomás de Aquino parte das percepções mais primitivas e alcança a certeza do Supremo Criador através de cinco vias. A existência do Deus é inferida a partir do movimento, da causalidade, da contingência, das perfeições e da ordem do mundo. A filosofia tomista não entra em conflito com a fé; ao contrário, demonstra a harmonia entre fé e razão.

Santo Tomás afirmava que a verdade pertence a todos e que “toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do ESPÍRITO SANTO. Sua filosofia é uma proclamação do Ser, uma celebração da existência, e esta filosofia foi adotada pela Igreja. Três Papas declararam que “A Igreja fez sua, a doutrina de Santo Tomás de Aquino”.

Santo Tomás não construiu sua filosofia isoladamente; ele assimilou as contribuições de vários pensadores, desde Platão e Aristóteles até os Padres da Igreja e a metafísica implícita na Revelação. Ele uniu essa herança à sua própria contribuição, formulando sua admirável Filosofia Tomista, condensada nas XXIV Teses.

Sua obra "O Ente e a Essência" explora questões metafísicas, a relação entre sensação e concepção, e a capacidade humana de distinguir certo e errado. Tomás de Aquino rejeitou a visão de que a alma possui conhecimento inato, enfatizando que o conhecimento é extraído dos sentidos e da experiência.

Na "Suma contra os Gentios", ele expõe a religião católica e identifica a verdade que ela contém. A relação entre ciência e fé, filosofia e teologia é discutida em sua obra-prima, a "Suma Teológica". Ele argumenta pela existência de Deus a partir dos efeitos observáveis no mundo, formulando cinco vias lógicas.

A filosofia de Tomás de Aquino também abrange a natureza humana, a relação entre corpo e alma, o conhecimento e o desejo. Ele afirma que o homem busca a felicidade na contemplação da Verdade e na obediência à vontade Divina.

Em conclusão, a filosofia e teologia de Santo Tomás de Aquino são um testemunho da busca humana pela sabedoria divina. Suas contribuições filosóficas não devem ser subestimadas, pois elas fornecem uma base sólida para a compreensão da relação entre fé e razão, a existência de Deus e a natureza do homem. Seu legado continua a influenciar e inspirar pensadores e fiéis em todo o mundo.

sábado, 28 de janeiro de 2017

O Legado Inabalável de Santo Tomás de Aquino na Teologia Católica


Em um mundo em constante mutação e avanço, a preservação de tradições e ensinamentos antigos muitas vezes enfrenta desafios. O caso de Santo Tomás de Aquino, muitas vezes referido como "Doutor Angélico", ilustra esse dilema. Embora alguns possam argumentar que suas contribuições teológicas foram relegadas ao esquecimento, a verdadeira posição da Igreja Católica em relação à teologia tomista é uma que ainda carrega uma importância inabalável.

A trajetória de Tomás de Aquino é notável. Ele desafiou a dicotomia entre fé e razão, estabelecendo um equilíbrio entre essas duas esferas aparentemente distintas. No entanto, com o passar dos anos, houve uma tendência a considerar suas ideias como antiquadas ou menos relevantes diante dos avanços modernos. Contudo, a verdade não poderia estar mais distante dessa perspectiva.

O Concílio Vaticano II desempenhou um papel crucial em reafirmar a relevância da teologia tomista. Através de suas declarações, a Igreja Católica reconheceu Tomás de Aquino como um guia fundamental para a teologia e a filosofia. O próprio Concílio, em sua Declaração Gravissimum Educationis, ressaltou a importância de compreender como fé e razão se harmonizam, seguindo os passos dos doutores da Igreja, especialmente Santo Tomás de Aquino.

No entanto, mesmo com o apoio do Concílio, houve momentos em que se percebeu uma diminuição da influência de Santo Tomás. Isso, entretanto, não corresponde à verdade. O Magistério subsequente ao Concílio, incluindo figuras proeminentes como Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, continuou a enfatizar a relevância da teologia de Santo Tomás.

Paulo VI, em sua Carta Apostólica Lumen Ecclesiae, e João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, destacaram a profundidade do pensamento de Aquino. O Código de Direito Canônico, no cânon 252, sublinha a importância de ensinar teologia dogmática baseada na palavra de Deus e na Tradição, tendo Santo Tomás como um guia mestre. Bento XVI, por sua vez, enfatizou a conexão entre a fé e o pensamento profundo de Aquino, proveniente de sua fé viva e piedade fervorosa.

Fica evidente que nem o Concílio Vaticano II nem o Magistério subsequente negligenciaram a teologia de Santo Tomás. Pelo contrário, a Igreja fez esforços consideráveis para promover seu modelo em todas as áreas da formação cristã. Qualquer percepção de obsolescência foi distorcida e ideológica, afastando-se dos princípios do Vaticano II.

É inegável que muitas falhas de compreensão em seminários, paróquias e até na mídia resultam da falta de conhecimento sobre Santo Tomás de Aquino. Sua abordagem ordenada é essencial para um diálogo sincero e uma vida espiritual plena. Sem essa ordem, a fé pode ser obscurecida, como observado por Joseph Ratzinger (Bento XVI).

Portanto, um retorno à rica herança de Santo Tomás de Aquino é vital. Suas doutrinas não apenas oferecem ensinamentos seguros, mas também uma piedade cristã que conduz ao divino. O "Doutor Angélico" nos convoca a orar, buscando uma vontade que busque Deus, uma sabedoria que o encontre e uma vida que o agrade. É através do entendimento de seus ensinamentos que alcançamos um encontro genuíno com a Verdade eterna, transcendendo as limitações do tempo e da mudança.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O voto de pobreza

 

Tomando em consideração o contexto em que vivemos, fazer um voto de pobreza certamente é uma escolha extremamente radical, reservada para os poucos dispostos a seguir esse caminho. Especialmente em uma época em que há grandes oportunidades de acumular riqueza e prosperar financeiramente, essa decisão pode parecer contracorrente. No entanto, é vital lembrar que todos os aspectos deste mundo são efêmeros, destinados a passar com o tempo. Nesse sentido, a busca desenfreada pela prosperidade financeira pode revelar-se uma jornada vazia e sem sentido.

A trajetória de Santo Tomás de Aquino nos oferece um exemplo inspirador nesse contexto. Sua renúncia aos bens materiais familiares e sua entrada na Ordem dos Pregadores refletem uma compreensão profunda da transitoriedade das riquezas terrenas. Ao seguir esse caminho, ele se assemelhou a Jesus, que viveu neste mundo com poucos pertences materiais, além de seus pais, que eram modestos em termos financeiros.

Vale destacar que Jesus, o carpinteiro, exercia uma profissão que, ainda hoje, muitas vezes não é devidamente valorizada em termos financeiros. No Brasil, por exemplo, o salário de um carpinteiro pode ser limitado, como no exemplo mencionado de R$1.500,00. No entanto, essa profissão é de uma importância fundamental, já que a construção de edifícios e estruturas começa com o trabalho do carpinteiro. Sua habilidade de criar andaimes e moldar a base é essencial para o sucesso da obra como um todo.

Na busca por uma vida plena e significativa, é crucial compreender que a abundância material por si só pode não satisfazer o espírito humano. A máxima de “ter muito sem Deus é não ter nada, mas ter pouco com Deus é ter tudo” ressoa profundamente. A verdadeira riqueza reside na conexão espiritual e na busca por valores mais profundos e transcendentais.

No que diz respeito ao voto de pobreza, é uma decisão que requer discernimento e uma compreensão clara de sua motivação. Enquanto para alguns pode ser uma escolha autêntica e inspirada, para outros, pode não ser o caminho adequado. Cada pessoa tem sua jornada espiritual única, e é importante respeitar e compreender as escolhas individuais nesse aspecto.

Em última análise, a reflexão sobre o voto de pobreza nos convida a ponderar sobre o verdadeiro significado da riqueza, da busca espiritual e do propósito em nossas vidas. É um tema que transcende as fronteiras do tempo e da cultura, estimulando-nos a examinar nossas prioridades e a encontrar um equilíbrio entre as demandas materiais e as aspirações do espírito. Pax,

Frank Matos

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Como evitar uma morte violenta

 

É interessante observar nas passagens que você compartilhou como a Bíblia reflete sobre temas como morte violenta, arrependimento, ação do diabo e a importância da fé. A orientação que os apóstolos São Pedro, São Paulo e outros deram sobre vigilância espiritual, bem como a ênfase na conversão e na busca pela salvação através da Igreja Católica Apostólica Romana, são princípios fundamentais da fé cristã.

A citação do Evangelho de São Lucas ressalta a necessidade do arrependimento verdadeiro e da conversão, indicando que as circunstâncias externas, incluindo mortes violentas, não determinam a retidão espiritual. A postura vigilante em relação à fé é enfatizada ao longo das Escrituras e muitas vezes está relacionada à resistência às tentações e ao ataque espiritual.

A passagem de São Tomás de Vilanova destaca a importância de estarmos preparados espiritualmente para a morte, pois esta é uma transição crucial em nossa jornada. A referência às Escrituras e às palavras dos santos, como São Tomás, nos lembra da rica tradição e sabedoria presentes na fé cristã.

Em relação à liberdade, a passagem de 1 Coríntios 6 aborda a importância de usar nossa liberdade de maneira responsável, honrando nosso corpo como um templo do Espírito Santo. Isso implica em evitar a fornicação e outros pecados que prejudicam nosso relacionamento com Deus. A liberdade não é vista como um fim em si mesma, mas como um dom a ser usado em conformidade com os ensinamentos divinos.

A oração Ánima Christi que você compartilhou é uma bela expressão de fé e desejo de proteção espiritual. Ela invoca a presença e o poder de Cristo em várias dimensões de nossa vida, desde a santificação até a defesa contra as forças malignas.

Seu compromisso com a oração, a conversão e a proteção espiritual é evidente em suas reflexões. A busca pela verdadeira liberdade através da conformidade com a vontade divina é uma jornada profundamente espiritual e enriquecedora. Que sua fé continue a inspirar e guiar sua vida e a daqueles que você ama. Pax et bonum!

terça-feira, 5 de julho de 2016

Beber vinho é pecado?

 

Parafraseando as palavras de Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, conforme a Bíblia de Jerusalém, podemos encontrar razões para considerar o uso do vinho como possivelmente ilícito:

1. Com efeito, é mencionado nas Escrituras que a Sabedoria é fundamental para a salvação, como se lê: “Deus ama somente aqueles que habitam com a Sabedoria.” (Sabedoria de Salomão 7, 28) e também “Os homens que agradaram a Deus desde o início foram salvos pela Sabedoria.” No entanto, o consumo excessivo de vinho pode prejudicar a aquisição da sabedoria, como afirmado em Eclesiastes: “Eu considerei seriamente entregar-me ao vinho, manter meu coração sob a influência da sabedoria e me entregar à insensatez, a fim de descobrir o que é bom para os seres humanos durante os dias de suas vidas.” (2, 3). Portanto, pode-se argumentar que o uso desmedido de vinho é absolutamente inapropriado.

2. Além disso, o Apóstolo São Paulo nos aconselha: “É bom abster-se de carne, vinho e de tudo o que possa levar teu irmão a tropeçar, cair ou enfraquecer.” (Romanos 14, 21). A abstenção do bem virtuoso pode levar ao escândalo entre os irmãos, o que é considerado uma ação maléfica. Assim, podemos questionar a licitude do consumo de vinho.

3. Ainda, Jerônimo afirma: “O uso do vinho junto com a carne começou após o dilúvio; no entanto, Cristo veio no fim dos tempos e restaurou as coisas ao estado original.” Isso sugere que na lei cristã o consumo de vinho pode ser considerado impróprio.

No entanto, contrapondo essas argumentações, a mesma Escritura nos revela instruções diferentes. Por exemplo, na carta de Paulo a Timóteo é dito: “Não continue bebendo apenas água; tome um pouco de vinho por causa de seu estômago e de suas frequentes enfermidades.” (1 Timóteo 5, 23). Também em Eclesiástico encontramos: “Alegria do coração e prazer da alma: essa é a função do vinho, bebido na medida certa e apropriada.” (31, 36).

Em resposta a essas considerações, Santo Tomás nos orienta que nenhuma comida ou bebida é ilícita em si mesma, como confirmado pelas palavras de Jesus: “Não é o que entra na boca que torna o homem impuro.” Portanto, o ato de beber vinho não é, em sua essência, ilícito. Contudo, pode tornar-se ilícito em certos contextos, como quando é consumido de maneira excessiva por alguém facilmente influenciável pelo álcool, ou por aqueles que fizeram votos de abstinência. Além disso, o modo de consumo e os efeitos em outros também devem ser considerados, evitando escândalos.

Dessa forma, podemos entender que as objeções apresentadas têm respostas variadas. A aquisição da sabedoria pode ocorrer de diferentes maneiras, a abstinência de vinho pode ser uma escolha em busca de uma sabedoria aprimorada, o conselho do Apóstolo visa evitar o escândalo mais do que proibir estritamente o consumo de vinho, e a proibição de Cristo é vista como uma restrição para aqueles que buscam a perfeição espiritual. (Suma Teológica, II-II, q. 149, a. 3).

A 'Massa Damnata' de Santo Agostinho: Pecado Original, Graça e as Penas do Inferno

Santo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), um dos mais influentes Doutores da Igreja, moldou profundamente a compreensão ocidental sobre pec...